segunda-feira, 28 de março de 2016

Nuno e menina Joaquina

O futuro de Angola

Nuno Dala, jovem Professor Universitário angolano, foi preso quando a sua filha Joaquina tinha apenas três semanas de vida. Quando, pouco antes do Natal, pôde voltar para casa, a pequena Joaquina ganhou o hábito de acordar às 5h da madrugada, chamando «Papá, papá!»... Ao que o Nuno respondia simplesmente «Sim. Estou». E a bebé sorria.

Estranha felicidade, essa, que se resume a poder «estar» junto da filha pequenina. Porquê? Porque um regime obsoleto e ruinoso (até há pouco tempo, segundo muita gente, simplesmente «autoritário» - mas com derivas totalitárias cada vez mais frequentes que nada justifica em tempos de «paz») decidiu que pensar é crime. Ou querer ser gente.

O ditador priva a sociedade de um Professor capaz; priva a família de um Pai extremoso; priva o indivíduo dos seus mais elementares direitos à dignidade, incluindo à propriedade privada e intelectual. Não é apenas o Nuno que está fisicamente refém. É toda a sociedade angolana, que está mentalmente aprisionada num labirinto fatal. Estupidez é Lei.

«A Joaquina vai ser muito minha amiga!» confidenciava alegremente o Nuno. Folha 8.

A ficção esboroa-se

A consistência da ficção de José Eduardo dos Santos torna-se mais duvidosa a cada dia que passa. Por um lado, nada mais resta se não injectar papel na economia, para cumprir as obrigações nominais do Estado, nomeadamente no pagamento de salários; precisamente por isso, o discurso formal é precisamente o inverso, ou seja, o da «secagem» da liquidez em excesso, para tentar controlar «psicologicamente» a pressão sobre o câmbio informal. Para desviar as atenções, numa tentativa de confundir as pistas e encobrir o desgoverno da autoridade monetária (consubstanciado, à boa maneira soviética, em purgas cada vez mais frequentes ao nível das chefias do BNA, regularmente consumidas como bodes expiatórios, nas quais cada novo governador mais fraco que o anterior), o Ministro do Planeamento assumiu-se como porta-voz para as questões económicas e vem falar em arrecadação de impostos, planos do Governo, blablabla...

A diversificação da economia consiste no aumento da carga fiscal? como se, no actual momento, tal fosse possível... até podem aumentar a carga em 1000% que não faz mal, desde que se pague no fim do ano (quando uma simples Cuca custar um milhão de Kwanzas). Já a LUSA, como sempre, com a sua abordagem acrítica e amorfa, continua a desempenhar o degradante papel de peão (ou mesmo cavalo de Tróia) no jogo da desinformação do regime. É com simplicidade que assumem o câmbio «oficial», para apresentar o resumo da situação (pelos vistos, a «informalidade» tomou conta das contas do «Estado» angolano), cujo voluntarismo fica bem patente logo pelo título «Angola quer (...)». Assim, afirmam que as receitas fiscais desceram 26%... de 4,1 para 3,2 biliões de Kwanzas, entre 2014 e 2015. Ora uma simples correcção monetária diz-nos que o câmbio real passou, entre 31 de Dezembro de 2014 e 31 de Dezembro de 2015, de 100 para 300 Kwanzas por dólar (e já estou a ser simpático). Portanto, há grosso modo que dividir por três os dados de 2015, para os tornar comparáveis com os de 2014, o que os reduz a menos de um bilião. Ou seja, a receita de 2015 foi de menos de um quarto da de 2014.

Mesmo que o «impacto» previsto estivesse à altura do máximo ambicionado pelo Ministro (782 milhões de euros), diga-se que isso representa apenas, em tempos normais, cerca de três semanas de importações, em termos de necessidades cambiais, para suportar o nível artificial de cotação do Kwanza, que era suportado pelas entradas de divisas frescas do petróleo, quando os termos de troca eram favoráveis. Com uma Sonangol insolvente a operar abaixo do preço de custo, o dilema torna-se insuperável. Nenhum regime resiste à falência da confiança nas expectativas criadas. O modelo económico e a ficção pseudo-identitária de apropriação primitiva de JES revelam o seu total esgotamento. A fórmula de desenvolvimento suportada pelo lucros de um petróleo caro, revelou-se um autêntico beco sem saída com a queda da sua cotação, sobretudo tomando em consideração que é impossível continuar a pensar, como parece ter sido o caso até aqui, que esta situação é apenas conjuntural. É preciso encetar uma reflexão estruturante e para isso são necessários intelectuais, que não devem ser presos por pensarem nos problemas e por estudarem os desafios políticos que se oferecem à sociedade angolana.

quarta-feira, 23 de março de 2016

10 000 vezes enganados

No seu miserável afã de apoio ao regime angolano, no âmbito do mais recente controlo implementado pelo novo MNE, os jornalistas da LUSA metem os pés pelas mãos e já não sabem a quantas andam. A encomenda, que se destinava obviamente a «matar elefantes com fisgas», anunciava pomposamente no título que o BNA «voltava a desvalorizar kwanza» para depois se «perceber» que fôra apenas «0,6%» (ufa!). Continuam a insistir em referenciar uma taxa fictícia de «mais de 300 kwanzas por dólar» (que obviamente, permite toda a amplitude de interpretação, nomeadamente de 600 para cima).

O mais engraçado é quando tentam fazer uma retrospectiva histórica. «Antes do início da crise da cotação do petróleo, no verão de 2014, cada kwanza valia cerca de 100 dólares.» (a crise estalou mesmo no fim do Verão, e só se desenhou mais propriamente no Outono, mas enfim...). É grave. Quem confie na LUSA engana-se: um Kwanza valia à altura um centésimo de dólar e não o inverso. Ou seja, quem confia na LUSA, engana-se, não por um, não por dez nem por cem, nem sequer por mil, mas por dez mil.

1 Kwanza segundo a LUSA = $100
1 Kwanza = $0,01
$100 / $0,01 = 10 000 x

Síndroma de São Bento alastra na CPLP

DSP sofre do mesmo mal que Passos Coelho. Ninguém mais caridoso para o esclarecer que já não manda nada há muitos meses? A ilusão da manutenção do estatuto [alimentados, apesar da mudança de Governo, pelos patéticos apoios de um MNE português altamente comprometido com o status quo prevalecente] caminham para o seu epílogo. Tal como o jornalista do L'Aurore com Salazar, chega o momento em que se torna demasiado patente a patologia mental. Salazar era de extrema humildade e tinha a desculpa de quatro décadas de rotinas de poder. Nestas reles cópias mal amanhadas, destaca-se sobretudo uma insuportável vaidade inerente à crise de negação, inteiramente desajustada à insignificância política e falta de carisma dos actores. Também em Luanda, o caruncho atacou violentamente a cadeira onde se senta o inamovível e insubstituível responsável pelo calamitoso estado de coisas em Angola, ameaçando, com a iminente ruptura, aplicar a mesma figura. No Brasil, Dilma entoa a célebre canção, saída de uma antiga anedota intra-uterina: «Daqui não saio eu. Daqui ninguém me tira!»

sexta-feira, 18 de março de 2016

Alerta máximo

A UNITA, sempre muito comedida nas suas críticas... Fará sentido reivindicar mais verbas para a Saúde, no âmbito de um Orçamento Geral anual que já está mais que ultrapassado, em termos nominais? Sabendo que o kwanza valerá brevemente um décimo do que valia há pouco mais de um ano, faria mais sentido que a UNITA reivindicasse Orçamentos mensais... Discutir OGE 2016? Isso é coisa dos tempos de estabilidade económica e monetária. Com a economia obviamente descontrolada, talvez fosse mais profícuo que se debruçassem sobre o OGE para Abril.

Golpe ou manifestação de soberania popular?

DSP tem tudo em comum com Dilma. Uma vaidade e arrogância deslocada, uma recorrente fuga para a frente, a política do facto consumado, a condenação dos «golpistas», a cara de pau perante a evidência das suas culpas no cartório, a representação imaginária de uma eterna legitimidade.

É a mesma mediocridade do sistema político, a falta de verdadeira liderança política, aspirações sempre traídas dos povos lusófonos. Lula, da família dos gastropodes, que inclui igualmente o ramo angolano, está a fazer uma péssima digestão das questões de maior acuidade da crise.

A falência radical dos esquemas das vacas gordas do petróleo, veio desacreditar toda a superficialidade do discurso desidentificado, desmascarando a podridão dos jogos de influência e de corrupção. O povo está a perder a paciência. No Rio, em Bissau e em Luanda. A CPLP em brasa?

É preciso repensar o poder.

terça-feira, 15 de março de 2016

Desmonetarização radical

Na semana seguinte à substituição do Governador do Banco de Angola, não é disponibilizado qualquer montante em divisas, como acontecia semanalmente desde que há registo. Temporização do novo Governador, ou está o BNA a assumir a banca rota?

Que nova ficção se prepara para inventar Valter? Depois da LUSA ter inventado que o câmbio tinha descido para 300 kwanzas por dólar em «certos sítios de Luanda» («embora com menos movimento»!?), justificando o facto com a «secagem» de kwanzas no mercado, nunca ninguém conseguiu dólares a menos de 500 kwanzas. Toda a gente sabia, incluindo decerto JES, que era o BNA que abastecia as kinguilas. Era essa a estratégia do momento. Era expectável a transformação do ex-Governador em bode expiatório, o que acabará por acontecer, mais depressa ainda, ao Valter. Não faz sentido tentar controlar a taxa de câmbio controlando a liquidez imediata e atrofiando a economia informal pela escassez monetária.

Segundo declarações do novo Governador, o BNA era uma falsa autoridade cambial, uma falsa autoridade regulamentar, uma falsa autoridade monetária e uma falsa autoridade de supervisão. Ninguém duvida. Que o Valter vá alterar as coisas, isso é que já é muito mais improvável. Quando as pessoas descobrirem que as «reservas» são em papel e que os cofres estão vazios, não vai ser fácil estar no seu lugar.

O câmbio informal volta a disparar, sendo de prever que venha a atingir os 1000 Kwanzas por dólar no curso do mês de Abril.

terça-feira, 8 de março de 2016

Vocação para a mediação

Os objectivos de Angola para o mandato no Conselho de Segurança da ONU são formalmente, segundo declarações da semana passada de Ismael Martins a'O País, a paz, prevenção e mediação de conflitos. José Eduardo dos Santos substitui assim Blaise Campaoré, que gostava de ser conhecido como bombeiro de África.

Para além disso, informalmente, JES parece não ter esquecido e ainda procurar uma reparação da humilhação que sofreu com a MISSANG. Angola que, depois de ter prometido um forte contingente para a República Centro Africana (a pensar aplicá-lo na Guiné), deu o dito por não dito, não mandou coisa nenhuma... prepara-se agora para voltar à carga, oferecendo os seus «bons ofícios» para chefiar uma missão da ONU em Bissau? Esta súbita vocação para a mediação parece ser um sintoma de aproximação do fim do ditador angolano, como aconteceu no Burkina Faso...

O Conselho de Segurança tem de ter cuidado com os mandatos que entrega ao regime angolano, cuja agenda revanchista oculta representa uma grave ingerência nos assuntos internos de um Estado soberano, divergindo em absoluto da pretensa «imparcialidade» que se exige a uma mediação internacional.

Um carnaval de angolanos com capacetes da ONU em Bissau acabará invariavelmente na exportação de sacos de plástico via Antonov para Luanda (para as famílias mais sortudas) e num aumento drástico na percentagem de baixas em Missões de «paz» da ONU.

segunda-feira, 7 de março de 2016

DN versus JN

O DN, extensão acrítica da propaganda do regime angolano, perde claramente para o JN, ao publicar no Sábado a «encomenda», que a LUSA havia publicado na Sexta-Feira de manhã. Não se trata apenas do dia de atraso: é que dá mostras de pouca perspicácia, pois a «notícia» já saiu desactualizada, depois de o JN ter dado a verdadeira notícia, da exoneração da Ministra, aliás já do domínio Público.

A fiscalização «permitiu baixar os preços»? É uma farsa, um bluff descarado, destinado a desinformar os mais simples, que apenas lêem as letras gordas dos títulos dos jornais. A Ministra do Comércio estava a trabalhar tão bem (tal como, aliás, o Governador do Banco Nacional de Angola), que foi despedida. E o DN, que já tinha vendido o serviço, nem reparou; andam na aldeia, mas não vêem as casas.

A Ministra (e o Governador) virou, por sua vez, cabra expiatória, tal como tentava fazer com os comerciantes. A rotação acelera vertiginosamente no BNA, mas o único verdadeiro bode expiatório possível é José Eduardo dos Santos. A sua hora está aí...

sexta-feira, 4 de março de 2016

O fantasma de Veríssimo

O CEMFA fez um sério aviso à navegação (se bem que recorrendo a ameaças desadequadas num Estado de Direito): ou pagam os salários, ou vai ser difícil segurar a tropa. Já são apenas ruínas, os sonhos de Cabral: é dever de honra das Forças Armadas contribuir para a reconstrução nacional.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Kota Karlos chumbado

Em relação aos moto-cultivadores chineses, a peça jornalística peca por não dar notícias sobre o protocolo de cooperação, por não inquirir beneficiários, pela ligeireza das asserções «governativas», que ambicionam «grandes projectos» mas que não fazem a mínima ideia da realidade e de como lá chegar.

Governar, ao contrário daquilo que pensam os dirigentes do PAIGC, não é apenas produzir discursos com pompa e circunstância. É dominar os dossiers, sabendo como aproveitar consistentemente os recursos disponíveis. É ter uma visão operativa de futuro, envolver as pessoas com os objectivos.

Depois de censurado no Parlamento, o ex-Primeiro-Ministro Carlos Correia deveria mesmo ter ficado nos bancos de escola primária que inaugurou em Nhacra, pois está chumbado nas contas de matemática apresentadas publicamente, na distribuição de mini tractores, que a ANG relata em artigo.

Kota Karlos não sabe fazer contas de multiplicar!

250 x 800 Kg = 200 000 Kg = 200 Toneladas

Duzentas toneladas e não «Dois» mil!

terça-feira, 1 de março de 2016

Brincadeira tem hora

Domingos Simões Pereira foge oportunamente para a Europa, deixando como presente um bloqueio intransigente em posições insustentáveis. Se alguém tinha ainda tinha dúvidas que não passa de um autocrata autista interessado na desestabilização do país, fica definitivamente esclarecido. Ao retorno, escala em Cabo Verde, para acompanhar o regresso «triunfal» de Cadogo.

Tanto a resposta à proposta de mediação, como a contra-proposta, são uma perfeita brincadeira de mau gosto, limitando-se a encher papel com letras vazias. O PAIGC acusa o Presidente de se limitar a traduzir as propostas da contra-parte, mas a sua «contra-proposta» não passa exactamente da mesmíssima coisa, num vão exercício de retórica demagógica, com um rebuçado «inclusivo».

Brincadeira tem hora. Brincadeira tem limite.