sábado, 30 de maio de 2015

José Eduardo dos Santos hipoteca Angola a Pequim

O pseudo-presidente angolano, ou dragão de papel, como lhe mandou chamar o Rei de Marrocos, irá brevemente à China negociar a venda do país, em troca de 25 mil milhões de dólares, almofada financeira que o colocaria ao abrigo da crise do petróleo por mais de um ano. Segundo artigo do Club-K, o Ministro das Finanças fez deslocação «secreta», ignorada pela Imprensa oficial... 

Talvez devesse compreender que, dada sua avançada idade, as garantias são escassas: existindo um apreciável risco que venha a deixar esta vida a curto prazo, o PCC deveria considerar seriamente, numa balança de probabilidades, as vantagens e desvantagens da concessão de um crédito de natureza política neste montante astronómico. É que, à falta do signatário, será mais difícil obrigar legitimamente os seus sucessores, sejam eles quais forem.

Já tinha aqui alertado discretamente os decisores da República Popular (não a de Angola) para os riscos de crédito, quando pela primeira vez se aventou publicamente essa hipótese (embora, por essa altura, se falasse de apenas um décimo dessa quantia), bem como aqui, embora com outros destinatários.

Para gastos sumptuários, despesas perdulárias, compra de sucata militar, prémios com o seu nome, legando a dívida aos angolanos e alienando o país? O senhor pseudo-presidente não se entusiasme... Nunca se ouviu um chinês dizer que não, aliás, é uma palavra que esse povo diplomático desconhece, por isso Pequim rima com sim. O que não quer dizer que seja sempre assim. Ou julga que é o único esperto habilitado a não cumprir com aquilo que promete?

Andar a cantar de galo, armado em carapau de corrida, não fica bem a quem depende de dinheiro emprestado...

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Adivinha quem é o pseudo-dragão?

A quem se destina o seguinte recado, hoje saído na imprensa marroquina, a propósito da visita do Rei de Marrocos?

«Quels sont ces pays africains, qui se déclarent faussement des puissances régionales,
qui en ont fait de même? Aucun !
Des pseudo "dragons" africains
qui n'arrivent même pas à assurer
le minimum vital à leur peuple!»

«Que países africanos, entre aqueles que falsamente se proclamam potências regionais, deram o seu apoio [à Guiné-Bissau] como está Marrocos a fazer? Nenhum! Pseudo-"dragões" africanos que não conseguem sequer garantir o mínimo vital para o seu povo!»

Se o plural pode ajudar, esclareça-se desde já que, apesar dum incidente diplomático recente entre os dois países, o principal destinatário da carapuça não é o novo presidente da Nigéria, muçulmano do Norte e que o Rei apoiou nas eleições contra a boa sorte do antigo.

Ao desesperado apelo de fundos das autoridades guineenses,

reforçado pelos intempestivos avisos à navegação que o agente duplo Trovoada emite pela CPLP em nome da ONU , pelos quais ficamos a saber que DSP nada pode fazer sem meios, pois as promessas da mesa redonda não passaram disso mesmo e está completamente sem dinheiro (tudo bem misturado com as ingerências do costume, tentando chantagear com o fantasma da «reforma» da defesa «as condições não estão ainda reunidas para que se possa avançar com margem de sucesso no apuramento das responsabilidades e na punição de culpados ["golpistas"]. (...) Injai foi removido e está tranquilo. (...) Outras altas patentes estão a ser mudadas»)

respondeu o monarca (decerto depois de ouvir as queixas surdas dos seus anfitriões) apontando o dedo a quem muito promete e nada cumpre...

Apenas uma dica: lembre-se que Angola tinha prometido, com pompa e declarações de circunstância (gabando o seu papel de potência regional, o seu lugar no Conselho de Segurança, o seu papel na «paz» do continente), quase dois mil homens para a força centro-africana; uma pequena nota de rodapé meio esquecida do Jornal de Angola veio recentemente anunciar que afinal, «desistiram». Tal como a Garantia ao BES, ou as muitas comissões de inquérito (evidentemente inconclusivas) extintas à dúzia por decreto sibilino.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Meia-Haste

Podemos ver a Bandeira guineense a meia altura da marroquina, no Palácio Real.

A semi-óptica imperial marroquina, transposta para além do Sahara, fica igualmente bem patente no próprio tamanho escolhido para as bandeiras.

Embora esta possa ser considerada uma simples ilusão, pois as bandeiras não estão na mesma haste, nem no mesmo plano, não deixa de ser significativo que, embora as duas bandeiras estejam representadas ao mesmo nível no balcão, uma outra, bastante maior e mais alta, encha a praça.

As relações entre os países devem-se de reciprocidade, portanto Sua Majestade deve-se de retribuir o protocolo a Sua Excelência o Presidente da Guiné-Bissau, convidando-o para uma visita de Estado.

Cedendo-lhe a sua residência principal e sobrepondo a bandeira da Guiné-Bissau à sua própria.

Ocorre-me o célebre provérbio imperial e soberano: «À mulher de César não basta ser séria, também tem de o parecer»

terça-feira, 26 de maio de 2015

O poder do preconceito

Tive hoje uma reflexão que partilho. Partiu de um texto de Nuno Dala, intitulado África, a realidade e o afrocentrismo irracional e bacoco, publicado no FaceBook:

«São neste momento 22h55. Passei o dia a pensar como daria minha contribuição no debate do Dia de África como forma de celebrar o continente que durante séculos foi colonizado, pilhado e humilhado pelos europeus. Ocorre-me apontar que a REALIDADE de África é visível nos seus indicadores em matéria de governação, transparência, direitos humanos (DH), índice de desenvolvimento humano (IDH), estado da infância (IF), índice de democracia (ID) etc. E o balanço já todos sabemos: ÁFRICA ESTÁ MAL, MAL, MAL! (Há felizmente excepções, embora raras). 

Mas afinal, por que será que DEZENAS DE ANOS DEPOIS de o colonizador ter-se ido embora África continua estagnada? Há várias razões, que são sobejamente conhecidas. O que de facto devo aqui trazer à atenção é um sério problema que acaba contribuindo para a estagnação do continente. Trata-se do que eu chamo de AFROCENTRISMO IRRACIONAL, uma "corrente" que tem muitos representantes também em Angola. O afrocentrismo irracional chega a ser patético, trágico e cómico. É ver gente que glorifica até mesmo os aspectos negativos e perniciosos das culturas africanas (poligamia, excisão, machismo, magia "negra" etc.). É ver esta gente a fingir que não está a ver que o continente nos últimos tempo teve (tem) muitas "espécies raras" do piorio (Idi Amin Dada, Bocassa, Mobutu, Robert Mugabe, Botha, Abacha, Banda, José Eduardo dos Santos etc.) que só ajudaram a consolidar a ideia de que o africano está parado civilizacionalmente, não progride! É ver esta gente a falar de "colonização cultural" e "académica", quando muitos deles (francamente) se perfilam em autoridade científica infalível (ou lago assim), defensores irracionais de algo que também não compreendem ou acham que compreendem. É daí que os vemos a dizer disparates como estes: 'Havia escravos brancos no Reino do Kôngo' (como se isto fosse mesmo razão de orgulho para nós!); 'a Rainha de Sabá era africana ou mukongo' (mas o que isto tem de útil?); 'havia democracia no Reino do Kongo' (que ridículo!); 'os afro-americanos devem retornar às raízes' (mas nem percebem que os afro-americanos desenvolveram uma nova identidade com o passar dos séculos!)...Minha pergunta é: para quê inventar tudo isso? É mesmo com estes disparates que vamos recolocar África na estrada da civilização?
»


Ao que Kayenga Kamalamba respondeu: 

«Cleptocracia, são os modelos de governação do continente " Berço da Humanidade". Diz- se que quem está no berço dorme! Será que nós os africanos ainda estamos dormindo? Estamos à espera que alguém nos venha a acordar, para que nos despertemos?»

Ao que respondi:

«A monarquia não é forçosamente má, no que se distingue da cleptocracia. Embora a cromatologia seja uma linguagem enformada por brancos (na qual o preto representa as trevas e o mal), pode dizer-se que, tal como na magia, que pode ser distinguida entre branca e negra, o mesmo acontece com a monarquia. Há uma monarquia boa e benéfica «branca», assente num contrato, em que o governado se obriga a obedecer, mas o governante se obriga, em troca, a bem governar. Rompido esse contrato, o governante, ordenado não ao bem comum mas apenas ao seu interesse particular, perde a sua legitimidade e o seu regime torna-se numa patocracia (o poder patológico), numa monarquia «negra», má e maléfica, um feitiço do qual pode ser bastante difícil os povos se livrarem. Em relação às cores, sugiro que se proceda a uma inversão valorativa do espectro cromático, e se comece a valorizar eticamente, junto das crianças, o preto. Black is beautiful. Antes que se fizesse luz, existiam as trevas, onde reside todo o potencial... Nem a Luz o seria, se não houvessem Trevas primordiais. A humanidade nasceu em África, ser branco não passa de uma «doença» de adaptação a latitudes mais frias, cujo sintoma é a falta de melanina (a qual se corrige, num sentido ou no outro, em poucas gerações)... Isso começa nas histórias que contamos às crianças: em vez de «branca de neve», porque não contar a «preta de carvão» (ou de petróleo, ehehe), que representaria as mesmas qualidades de pureza, etc? Num novo protocolo linguístico, circunscrito ao Continente (se um africano for à Europa, poderá usar o protocolo local, para se fazer compreender, mas em África, podemos esperar que, reciprocamente, respeitem novas idiossincrasias) diremos Magia «Negra» para significar (ao contrário do que até aqui se faz) magia benfazeja, e magia branca (para significar o diabólico). 

Inspirado, ainda produzi uma réplica, tentando aclarar alguns aspectos menos claros:

«A magia não tem forçosamente apenas conotações negativas. Isso parece-me ser reduzir demais as coisas. Claro que não devemos acreditar no Pai Natal, que tudo se resolverá por «magia». Parece-me que é sobretudo preciso lutar contra a forma como o africano encara o mundo moderno: de forma mágica, como «caixa negra», o que o inibe que querer aprender a técnica de dele se apropriar e o colocar ao seu serviço. Se a razão pode explicar muita coisa, não explica definitivamente tudo. Um dos erros em que caiu a geração «científica» foi precisamente a des-sacralização, privando as pessoas de uma faceta mágica, que permitia explicar de forma acessível o modo como o Cosmos possui uma natural propensão para o equilíbrio. A desidentificação é altamente perigosa, neste contexto, como sugere Nuno Dala, pois conduz à negação (da qual podemos constatar um caso paradigmático com Michael Jackson). Pode ser uma explicação de contos de fadas, mas a magia, concebida como capacidade de abstracção mas também de operação, de receptividade perante o maravilhoso, de abertura à utopia, não é forçosamente contra-producente. Trata-se apenas de, através de um ritual propiciador, criar o ambiente legitimador adequado, agindo sobre as mentalidades e introduzindo uma dinâmica de desenvolvimento consistente. Que dizer dos jovens americanos que se suicidam porque não foram preparados para as sequelas da guerra estúpida para onde os enviaram sem preparação adequada? Não podemos estimar que um «simples» pele-vermelha (como lhes chamavam), estava melhor preparado, iniciaticamente, para a guerra e para a morte e suas consequências psicológicas? O ritual de desenterrar o machado de guerra preparava o guerreiro para a excepção que representava a guerra, permitindo-lhe manter a sua humanidade... sabe sempre que aquele momento pontual passará e as coisas voltarão à ordem normal, depois de enterrado o referido machado e fumado o cachimbo da paz. Tal como o legionário do Império Romano, para quem, depois do ritual de lançamento de uma lança, do lado de cá da fronteira, para lá, estava oficialmente declarada a guerra, ficando isento de crimes de guerra «mentais». A magia tem a ver com o poder de convicção (que alguns resumem a uma fé cega), cuja consistência opera inevitavelmente sobre a realidade, a qual, como toda a ferramenta inclusive a ciência, pode ser usada para o bem, ou para o mal.


Em tempos, desenhei e fabriquei um jogo de xadrez de viagem em madeira, sem brancas nem pretas, porque isso é apenas convenção. O jogo tem apenas pequenos buracos nos sítios das casas, e, embora de perfil as peças sejam iguais, umas são torneadas e vistas de cima são redondas, e as outras são trabalhadas à tupia e apresentam secção quadrada. As peças são transportadas dentro da caixa, que por ser facilmente transportável e as peças não caírem, mesmo na vertical, digo que é «de viagem». O rei das esferas tem um cubo por cima, e o rei dos cubos, uma esfera. Muita gente, mesmo após explicações mais que convincentes, recusa-se a ver no objecto um tabuleiro de xadrez, embora eu demonstre jogando com outra pessoa, aderente do «protocolo» e ambos os jogadores possam evidente e individualmente, proceder à notação oficialmente reconhecida das jogadas, em plena sintonia (não havendo portanto dúvidas de que aquilo que estão a jogar é xadrez). Produzi meia dúzia e ainda tenho dois para venda. Madeira de Pinho e Mogno. Lado do cubo e diâmetro do esfera de 2,5cm. Preço 250€.

sábado, 23 de maio de 2015

Regime a falar para as paredes

Ontem, na cidade do Dundo, uma importante cerimónia oficial ficou às moscas, boicotada pela população, apesar da cerveja e comida à borla. Imagem bem representativa da legitimidade actual do MPLA.


A não perder, a opinião de Marcolino Moco, quanto aos recentes desenvolvimentos, ainda um pouco confusos em termos de desenlace, do caso Rafael Marques.

«Minha idéia sobre o fim do caso Rafael Marques:

Devido às ocupações que me preenchem o tempo, no presente momento, não pude aprofundar a situação reflectida do que captei nas redes sociais sobre o caso. Mas se bem o entendi, chamaria a isso a vitória do bom senso. No quadro da situação geral que o país vive, é por uma solução desse tipo que eu torcia, especialmente quando vi que estavam agregadas ao caso pessoas de um bom senso proverbial, como os generais Ndalo, Matos, Nunda e outros. Quem nos dera que conseguíssemos resolver de forma semelhante o problema mãe de todos esses problemas: devolver a soberania ao(s) povo(s) de Angola, sem ser necessária mais uma revolução sangrenta; acabar de vez com a repressão contra manifestantes pacíficos, acabar com a continuação de presos de opinião em Cabinda e nas Lundas, assistirmos ao fim da entrega de todas as instituições a uma família e pouco mais! Na verdade, este é o problema fundamental que temos de resolver, preferencialmente, de forma pacífica. Mas o que se observa é que o Presidente José Eduardo dos Santos acha que a solução é controlar cada vez mais poder (vejam isso de controlar mais pessoalmente o sistema eleitoral?), controlar pessoalmente a comunicação social de Angola e de Portugal; enfim, usar de chantagem contra nacionais e estrangeiros, na base dos recursos naturais do país. Há melhor exemplo de como utilizar a soberania nacional capturada, para chantagem à comunidade internacional do que aquele comunicado do governo de Angola, sobre o caso Kalupeteka? Quando, seja qual seja a gravidade do acontecido, o que se exige, legitimamente, é apenas esclarecimento sobre vidas perdidas?»

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Intentona ou Inventona?

Quem liderou a tentativa de Golpe de Estado no Burundi? Aquele que ainda há três meses atrás, era Chefe da Secreta do Presidente «deposto».  Aparentemente perito em diversões e golpes de teatro, num momento em que se arriscava a ver a capital inundada, lançou o isco, para ver aqueles que cairiam. Desde o primeiro momento que nunca se percebeu bem de que lado estavam «as tropas»; o blindado abandonado em frente à sede da Rádio-Televisão, como consequência de «violentos combates», não apresenta qualquer dano visível, parecendo óbvio que tudo não passou de encenação para abusar o povo do Burundi e quebrar a revolta popular, como alguns, mais clarividentes, logo denunciaram. Tratava-se apenas de purgar a tropa dos elementos patrióticos que aderissem de boa fé. No entanto, devido às circunstâncias, a dimensão da adesão excedeu largamente a expectativas, mostrando à evidência a falência da legitimidade presidencial. E não será outro ditador nojento que o vai salvar.

Com o país em plena insubordinação civil, os activistas conseguiram realizar manifestações em muitos locais.

Num primeiro tempo, fugiam perante os tiros de intimidação para o ar.

Num segundo tempo, passaram a sentar-se no chão, de cada vez que os militares disparavam, partindo depois novamente contra as barragens avançando devagar, com os braços no ar (para mostrar que estavam completamente desarmados) e cantando o hino nacional.

Em vários locais conseguiram chegar ao contacto com os militares e parlamentar, expondo os seus sólidos argumentos.

Entretanto, continuando a dar provas de autismo, Nkurunziza comete mais uma inconstitucionalidade flagrante: demitiu dois ministros (o que significa que, para além de violar os acordos de Arusha, face à dissolução do Parlamento, os novos «indigitados» não poderão tomar posse). O dos Negócios Estrangeiros e o da Defesa (este último, por ter afirmado, no curso dos acontecimentos: «o exército é o último reduto do povo»). Depois de ter chamado aos manifestantes «insurrectos», chamou-lhes «bandidos», depois «golpistas», ainda ontem «terroristas»  d'al Shabaab, e hoje, deu o último passo da farsa genocidária, classificando-os como «tutsis»!

É a cartada do desespero.

Créditos Twitter : Sonia Rolley.

Saudamos a defesa da Ordem Constitucional pelas forças leais ao Presidente da República, cuja legitimidade não pode ser posta em causa

José Eduardo dos Santos, hoje, sobre a situação no Burundi, por ocasião da Cimeira Extraordinária da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos, publicado pelo Portal de Angola. Sustenta ainda a diversão lançada por Nkurunziza:

«Convido Vossas Excelências a inscrever na nossa agenda como ponto de destaque o fenómeno do terrorismo e a encarar com muita seriedade a forma de o prevenir e combater. O massacre de cerca de centena e meia de estudantes no Quénia e outros actos terroristas perpetrados pelo grupo Al Shabab, são crimes que condenamos com veemência.»


Em termos de massacres, comparado com o terrorismo de Estado de José Eduardo dos Santos, no grupo Al Shabab, são uns meninos. É o próprio José Eduardo dos Santos que está a atar o seu destino ao de Nkurunziza. Não deverá pois admirar-se, se os angolanos se inspirarem no povo burundês para se libertarem da tirania.

Cumprimento do OGE = 1 / 1000

Segundo o relatório semanal do Banco de Angola, o resultado do financiamento interno no período em consideração foi equivalente a um Título do Tesouro efectivamente colocado por cada mil emitidos.

Amanhecer em Bujumbura

Hoje prepara-se para se tornar um dia histórico para o Burundi e para África em geral. O povo deverá sair à rua em Bujumbura e dar uma lição ao ditador.

Para contrariar aqueles que insinuavam que não se encontrava no país, Nkurunziza fez uma fugaz aparição no Palácio Presidencial para dar uma entrevista, tentando passar a ideia de normalidade. Na imagem, por detrás do Presidente deposto, os seus antecessores, que o desmentiram; podia ter puxado a cortina... Numa última tentativa, em desespero de causa, agitou o fantasma de uma ameaça terrorista somali a interesses americanos no Burundi... a organização visada veio já, em jocoso desmentido à Reuters, garantir não passar de uma manobra de diversão para distrair as atenções da situação interna no seu país.

[Não resisto a transcrever o original «We think that this is an attempt by him to appease his people, who are standing in the streets protesting against his dictatorship, to divert the world's attention from him while he possibly prepares his mass revenge», al Shabaab spokesman Sheikh Ali Mahamud Rage]

Embora a BBC tenha publicado uma notícia segundo a qual o presidente «will hold onto power», este abandonou o Palácio imediatamente após a Conferência de Imprensa, denotando evidentes sinais de stress... Apesar de ter conseguido conter o golpe, graças à sua guarda pretoriana extremamente bem paga e armada, comporta-se como um animal acossado.

Para o Aujourd8 do Burkina Faso, «muitos farejaram um autogolpe orquestrado pelo próprio Nkurunziza» mas, ainda segundo o mesmo jornal, a ter sido o caso, o tiro saiu-lhe pela culatra, pois a acalmia do fim-de-semana poderá ser apenas o prenúncio da tempestade que se avizinha, uma trégua passageira, na onda que varrerá a praia do Grande Lago.

domingo, 17 de maio de 2015

Inconformismo patriótico

O que é demais, é demais. Até Jesus Cristo se irritou, perante a profanação do Templo. Um jovem patriota anticonformista angolano diz no seu FaceBook que começou a escrever um simples comentário, mas que acabou por se exceder... publico na íntegra o magnífico artigo que escreveu, indignado com a resposta do regime de José Eduardo dos Santos às graves acusações da ONU.

Acho que o governo angolano é composto de brincalhões.

Primeiramente, um governo democrático ou num país democrático um governo não vinga. O papel dum governo é deter os criminosos e traduzi-los à justiça para serem julgados. Pouco importando a gravidade do crime ou dos crimes cometidos por estes últimos. A severidade da pena que será pronunciada é que punirá a gravidade do crime. Mas o governo angolano, no caso Kalupeteka, vingou-se através da sua policia, matando assim dezenas ou centenas de cidadãos indefesos e isso é gravíssimo.

Segundo, nesta declaração o governo fala em "direitos das crianças" e de "crianças fora do sistema escolar". Meus senhores, desde quando é que o governo de Angola se importa seriamente com as crianças fora do sistema escolar ? Se tal fosse o caso, porque não faz quase nada com tantas crianças que passam a vida nas artérias da cidade de Luanda ? Muitos até fumando substâncias ilícitas em tenra idade ? Agora querem fazer-se passar por defensores dos direitos das crianças ? Porque razão, volvidos 13 anos desde o advento da paz em Angola, ainda continuamos a ter crianças fora do sistema escolar ? Mas também crianças que têm que levar bancos na escola para sentar ? Depois falam em direitos das crianças ? Isto é apenas para inglês ver.

Terceiro, o governo de Angola já entendeu que o povo angolano está mesmo farto da guerra mas também que ficou traumatizado com o longo conflito armado que o país conheceu. Assim, o governo ou seja, o Partido MPLA, tem utilizado (instrumentalizado) este facto para cometer manipulações e violações dos direitos dos angolanos, e cada vez que as pessoas ou a Oposição reivindica ou organizam manifestações, argumenta que querem pôr em perigo a paz. Desde quando é que uma manifestação, que o próprio MPLA consagrou na Constituição que impôs aos Angolanos em 2010, põe em perigo a paz? Isto é apenas manipulação. E nós angolanos atentos já entendemos isso e pedimos que isto possa cessar o mais rapidamente possível. O MPLA não pode continuar a provocar a Oposição e a violar os direitos dos angolanos e em seguida quando as pessoas reclamarem aproveitar o medo que habita em muitos angolanos para enganar os menos atentos dizendo que estão a ameaçar a paz. Isto é maquiavélico !

Quem realmente está a ameaçar a paz e a estabilidade em Angola é quem está sempre a violar as leis do país, a cometer injustiças e desigualdades, a excluir todos aqueles que pensam diferente ou que não pertencem ao Partido MPLA, a roubar o dinheiro público que podia servir para resolver os infinitos e graves problemas de água, eletricidade, educação, saúde, estradas esburacadas, engarrafamentos sem fim, pobreza, falta de habitação, saneamento básico, lixo, poeira... que afligem todos os dias os angolanos na sua generalidade e sobretudo os habitantes da cidade capital, Luanda.

O governo pediu "provas" à ONU no caso Kalupeteka. Mas também à Oposição, noutras circunstâncias ou contextos do caso acima referido. Posso aqui inverter o papel e pedir ao MPLA que apresente provas contrárias das acusações que são levantadas contra si. Se não devem, porque razão não deixaram os primeiros angolanos que chegaram no local do massacre irem visitar este lugar tão logo que o massacre fora perpetrado ? Porque deixaram passar alguns dias antes de começarem a autorizar o acesso a este sitio ? Com certeza que era para enterrarem os corpos a fim que ninguém, fora dos assassinos, soubesse o numero exato de Angolanos que foram barbaramente assassinados naquele dia. Conforme diz o ditado, quem não deve, não teme. Se o governo está a temer é porque deve sim alguma coisa. E a verdade sempre vence. A verdade é teimosa e ela virá à tona.

Peço aos agentes da Policia Nacional que participaram deste massacre ou que detêm informações preciosas, que sejam patriotas e que denunciem o que realmente se passou. Se possível juntem as provas. Porque muitos destes elementos da Policia Nacional perderam também os seus familiares nesta carnificina.

Para terminar, gostaria dizer que, relativamente ao caso Kalupeteka, a minha convicção é a seguinte : para além dos que mataram e/ou os que enterraram os corpos, ninguém mais pode dizer com exactidão quantos angolanos morreram naquele dia. Mas uma coisa é certa, morreram sim centenas de Angolanos. O número avançado pelo governo de 13 mortos é uma mentira vergonhosa. Num universo de mais de 2 000 (duas mil pessoas) face à Policia Nacional e ao Exército com helicópteros e outros meios bélicos sofisticados, dizer que só pereceram 13 indivíduos é fazer prova de pouca inteligência ou esperteza.

Enfim, desde que Angola acedeu à independência em 1975, o Partido MPLA já cometeu muitos massacres contra o povo angolano. O primeiro massacre foi o do 27 de Maio de 1977, apenas dois anos após a independência. Morreram muitos inocentes que nada tinham a ver com a suposta tentativa de golpe de estado.


Em seguida, houve o massacre contra os fiéis da igreja Tocoísta em Luanda nos anos 80. Eu era muito jovem mas lembro-me como se fosse hoje as imagens que vimos na televisão naquele dia; elementos das FAPLAS no templo da igreja Tocoísta dando tiros em todos os sentidos e matando assim dezenas e dezenas de cidadãos angolanos.


O antepenúltimo massacre foi o perpetrado depois das eleições de 1992, durante o qual o regime do MPLA distribuiu armas à população para atacar uma outra franja da população angolana. E nomeadamente os Bakongos e os originários do Sul de Angola ou seja os "Sulanos".


 No dia 16 de Abril foi cometido um massacre suplementar da nossa história, num momento em que se fala da paz e da reconciliação nacional. Que tristeza ! Isto para não citarmos os assassinatos políticos seletivos.

À laia de conclusão, digo que isso não pode continuar assim. Os angolanos não podem continuar a ser assassinados por aqueles que deveriam os proteger e proporcionar melhores condições de vida.
O MPLA nao respeita a vida humana. E os seus abusos de poder e de autoridade já estão a ultrapassar os limites do aceitável.


Povo angolano, meus irmãos, minhas irmãs. É mais de que hora de acordarmos e reagirmos. Metamos o fanatismo de lado e façamos algo para o nosso querido país Angola. Não podemos continuar a aturar um regime que pouco se importa do povo que (des)governa !


Como prova disso, olham o estado dos bairros onde eles (os governantes) vivem, e olham também para o estado dos bairros onde vive o essencial da população de Luanda e de Angola em geral. A diferença é que eles vivem no luxo total e o povo vive nos bairros sem saneamento básico, nem água e luz elétrica. Em suma, o povo vive nos bairros sem condições de habitabilidade.

É mais do que tempo de termos um governo que pensa no povo e que terá como única preocupação resolver os problemas dos angolanos. Mas também e sobretudo, um governo que irá respeitar e proteger a vida humana. Pedimos o respeito da vida humana.

Aos fanáticos deste regime, peço que mudem de posição ! Porque o problema não é partidário. Não estamos aqui a falar de Partidos políticos, mas sim a defender os direitos e interesses de TODOS os angolanos contra as práticas maquiavélicas deste regime.

Devem ter em mente que hoje estão a defender as práticas maquiavélicas do regime, mas amanhã estas mesmas práticas poderão ser perpetradas contra vocês mesmos ou contra os vossos familiares. O regime apenas se importa com os seus próprios interesses. As vidas dos outros não lhe interessam.


Estamos a defender uma Angola onde os direitos de quem governa como daqueles que são governados serão respeitados da mesma forma. Defendemos uma Angola governada por leis e na qual ninguém estará acima das leis, e não aquela onde impera a vontade de quem governa o país.

Não tenho nenhum problema contra o Partido MPLA nem contra os seus dirigentes. Sei que no seio deste Partido existem angolanos patriotas e que querem o bem de Angola e dos angolanos. Tenho até amigos e familiares que são membros do MPLA. 


Estou é contra a má governação do país por este Partido e contra as suas políticas maquiavélicas, calculistas, de exclusão e divisionistas que prejudicam sobremaneira (muito) o nosso país.

Quero e luto apenas para termos um governo que vai amar o seu povo. Que vai governar para o bem-estar de todos os angolanos sem exclusão ou discriminações de quaisquer espécies.


O atual governo do Partido MPLA é antipatriótico, insensível ao sofrimento dos angolanos, altamente corrupto, calculista, divisionista, incompetente na governação, esbanjador do erário publico... Assim sendo, já não tem a legitimidade moral de continuar a governar os angolanos...

Obrigado.


[com a autorização do autor]

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Recepção «triunfal» a Nkurunziza

No centro de Bujumbura, a chegada do autocrata é festejada por uma «grande» multidão. Compare-se com a densidade humana no mesmo local, há dois dias atrás.

Revolução popular no Burundi continua

Confirmada a entrada no país do Presidente deposto Nkurunziza, por via terrestre, com o cínico beneplácito do Presidente do Rwanda (apesar de há cerca de uma semana este lhe ter pedido para dar ouvidos ao seu povo), entrando pela cidade fronteiriça de Negozi, seu bastião; foi entretanto anunciada a sua partida para Bujumbura, um percurso de pouco menos de 100Km. Puderam-se ouvir, partindo ruidosamente do centro de  Bujumbura, algumas viaturas de apoiantes fazendo-se à estrada para o irem receber. Elementos de uma sinistra milícia presidencial com vocação para esquadrões da morte, esperam a chegada do presidente: comparem-se as dezenas de milhar de anteontem com as dúzias de que falava há pouco o correspondente da BBC.

Enquanto isso se passa, um importante documento (que pode mesmo ser considerado de precedente a nível mundial), uma carta aberta assinada por quatro ex-presidentes do Burundi, vem desautorizar Nkurunziza e reforçar as firmes convicções da revolução popular, que exige que Nkurunziza retire a sua candidatura a um terceiro mandato. Enquanto isso, neste momento, as milícias gritam na rua, em jeito de provocação: «Acabou-se o reinado de Niyombare [chefe dos amotinados, cujo paradeiro é de momento desconhecido], viva o PRIMEIRO MANDATO de Nkurunziza».

Após o lamentável caso da surreal rendição da segunda figura golpista, que terá atraiçoado o líder e sido cooptado pelo Presidente deposto, teme-se, à boca pequena, segundo o jornalista do Le Monde Jean Pierre Remy, uma sangrenta repressão. Em muitas zonas do país, a própria polícia tinha aderido ao Golpe de Estado consonante com o desejo de Revolução Popular (muitos dos chefes de posto foram presos). O que provocou uma reacção popular de indignação e repúdio, acusando o falhanço militar de ter quebrado o levantamento popular. Em Musaga, a população interpôs-se entre a polícia, que vinha prender os «cabecilhas» e a barragem dos militares golpistas. Num momento de tensão, a polícia chegou a disparar por cima da multidão. Os militares acabaram por ser eles próprios a levantar a barragem e a sugerir à polícia que se acalmassem...

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Tentativa de intoxicação

Após o anúncio via Twitter do retorno ao país do Presidente Nkurunziza, a jornalista Sonia Rolley está a publicar, desde há cerca de meia hora, informações imprecisas que estão a ser largamente difundidas e propagadas. Resta saber se a jornalista da RFI foi desinformada ou é cúmplice de uma manobra de contra-informação, dando conta de um «reconhecimento da derrota», por parte do General Cyrille Ndayirukiye (apresentado como número dois da revolta), com declarações surreais como «Notre initiative même si elle a échoué a mis à nu une armée qui est inféodée au parti au pouvoir.» Alguém que ouviu o mesmo audio, disse que não era ele, mas alguém que o citava... Parece óbvio que estas «notícias» se destinam a a desacreditar e desmoralizar a revolução, travando as várias colunas militares de apoio à revolução, que se dirigem para Bujumbura, originárias de vários pontos do país.

Polícia vandaliza, no Burundi

Elementos da Polícia afectos ao ex-Presidente incendiaram as instalações de duas Rádios favoráveis aos rebeldes: que dizer de uma polícia que, em vez de defender a propriedade, é a própria a promover a pilhagem? As operações da polícia contra as rádios foram efectuadas em estilo guerrilha: «bate e foge» (da fúria da população). Desde ontem que aparentemente se luta pelo controlo dos meios de comunicação. O assalto rebelde à Rádio-Televisão (único meio de chegar a todo o país) parece ter falhado, mas demonstra claramente que são os revoltosos que estão ao ataque, tentando acabar com as bolsas de resistência pró-Nkurunziza, e não o contrário, como afirmava ontem o Chefe de Estado Maior lealista.  Face à escalada da violência a população parece ter optado por ficar em casa, para já.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Revolução popular no Burundi

Aproveitando uma deslocação de Nkurunziza à Tanzânia, o General Godofredo Niyombare, proclamou esta manhã a destituição do Presidente do país. Ex-Chefe de Estado Maior das Forças Armadas e companheiro de partido de longa data de Nkurunziza, fora nomeado em Dezembro passado para a chefia do Serviço de Informações, mas acabou demitido em Março, por divergências com o Presidente.

A noite caiu em Bujumbura e, segundo os vários media que estão a reportar, o desfecho não é claro. O centro das atenções transferiu-se entretanto para o aeroporto, ocupado pela tropa. Se o Presidente conseguir aterrar, conseguirá eventualmente agarrar-se ao poder; mas ninguém sabe para que lado estão virados os militares que ocuparam o aeroporto, ou se Nkurunziza arriscará a viagem.

Tudo começou bem cedo, esta manhã. A grande originalidade deste dia foi decerto o importante papel desempenhado pelas mulheres, que tinham marcado uma jornada de luta contra a pretensão do Presidente de concorrer a um terceiro mandato, e pela reabertura da RPA, rádio contestatária fechada pelo regime. Ocuparam o centro de Bujumbura, tendo sido dispersas a canhão de água, reagrupando-se em seguida.

Mais tarde, o grosso dos manifestantes tentou fazer a junção com as mulheres, sendo impedidos pela polícia. Alguns elementos revoltosos do Exército, com um blindado, juntaram-se aos populares e enfrentaram a polícia, avançando muito lentamente com a multidão. A polícia entretanto desapareceu das ruas. As chefias militares reuniram-se para discutir a saída para a crise, sem que se perceba muito bem, para já, para que lado pende a situação.

Parece que o Presidente conseguiu assegurar a fidelidade de algumas unidades, mesmo se duvidosa: quando um repórter francês perguntou, há pouco, a um dos soldados de guarda ao Aeroporto (entretanto fechado e de luzes apagadas, tendo um avião belga sido desviado para Nairobi) de que lado estava, se do lado do povo se do lado do Presidente, este não soube responder... Aterrará para continuar a aterrorizar?

Se em termos militares as coisas estão confusas, já em termos de controlo dos meios de comunicação, as coisas parecem correr melhor para os revolucionários. A polémica RPA voltou a emitir, o que foi festejado com alegria por toda a população; enquanto, por outro lado, a REMA, pro-governamental, que tinha vindo a dar notícias enganosas sobre a revolução e a apelar a uma «guerra de catanas», foi silenciada.

A televisão, defendida por um contingente leal ao Presidente, continuou aparentemente com a sua programação, como se nada se passasse. A população festeja ruidosamente nas ruas a desgraça pública do Presidente e julga que o Golpe foi um sucesso. Os slogans dos manifestantes a que foi dado maior relevo no Twitter, foram, para as mulheres, «Pierre Nkurunziza para Haia»; já para os homens, foi destacada a consciência de que «Pela primeira vez o povo decide e é respeitado», ou «Somos hutus, somos tutsis, somos o Burundi!». 

O que levou o jornalista do Le Monde, Jean Pierre Remy, a exclamar, traduzindo o sentimento geral «O que se joga em Bujumbura é o futuro virtual de vários outros poderes africanos».





Créditos Twitter: Sonia Rolley @ RFI e Jean Pierre Remy @ Le Monde

Taxistas taxativos

A tensão social, com o agravamento do autismo das autoridades, está em plena explosão. Os tiros no pé que esta política induzirá serão consecutivos e rapidamente deitarão abaixo qualquer estrutura repressiva, por mais eficiente que seja. O caso dos taxistas é paradigmático.

Numa tentativa para conter o descontentamento popular, as autoridades pretendem congelar o preço das corridas de táxi, importante fatia do orçamento familiar na cintura de Luanda, apesar dos fortes aumentos de preço no combustível. Face à negação, a classe dos taxistas, na sua generalidade, passaram a desrespeitar a tabela oficial, que deixou de ser economicamente sustentável. Numa operação de intimidação ocorrida ontem, vários foram presos «com a boca na botija» e obrigados a pagar uma pesada multa. A solidariedade profissional entra agora em campo, gerando a revolta.

ONU dá o alarme

A ONU acaba de exigir em comunicado a abertura de um inquérito independente para apurar a dimensão do massacre ocorrido na Caála, em Angola, chamando a atenção para os relatos alarmantes dando conta de centenas senão mesmo mais de um milhar de mortos, como estimou o principal partido da oposição, a UNITA. Numa subtil alusão à responsabilidade de José Eduardo dos Santos na carnificina (já denunciada por Justino Pinto de Andrade), o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos denunciou ainda que o tratamento dado à questão, nos media estatais, terá contribuído para criar um ambiente persecutório, que continua até hoje.

Apesar de a LUSA não ter ignorado a notícia, a imprensa portuguesa continua cobardemente surda, cega e muda perante o caso. Só o Correio da Manhã lhe dedicou um envergonhado minuto. Aparentemente, a entrada de capital angolano na estrutura accionista indígena comprou todas as consciências.

Se a UNITA viu o acesso à zona do massacre barrado (pois precisavam de tempo para ocultar as provas), já a CASA-CE produziu um relatório descrevendo circunstancialmente o ocorrido, concluindo pela premeditação, baseando-se nas movimentações militares prévias, acusando a Presidência de pretender criar um bode expiatório - que servisse para desviar a atenção das pessoas dos graves problemas económicos internos que o país atravessa, servindo ainda como intimidação para qualquer acção de contestação da oposição, como evidencia a tentativa de colagem de Kalupeteca à UNITA.

Relatório que o Presidente se recusou a receber. O ditador entrou em total negação, a todos os níveis. Num diabólico autismo, deita alegremente achas para a fogueira, caindo no ridículo de criar prémios com o seu próprio nome, comprando aviões de luxo, ou insistindo no seu discurso belicista de potência regional (em segunda mão). À beira do precipício, José Eduardo dos Santos enceta uma fuga para a frente. O resultado será inevitavelmente desastroso.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Dívida pública em carteira

Enquanto o Governador do Banco Nacional de Angola encerrava o Fórum de investimento em Dívida Pública, o relatório semanal da mesma instituição, dava conta da colocação de menos de 0,5% do previsto. Os 99,5% sobrantes juntam-se assim aos montes de títulos do tesouro já amontoados desde Fevereiro. Ou seja, as autoridades monetárias não conseguem sequer absorver um por mil das divisas em dólares colocadas no mercado, evidenciando um grave desequilíbrio na execução da componente de financiamento interno do OGE, já revisto.

As declarações do Governador, dando a entender que os 300 milhões de dólares por semana que têm vindo a ser disponibilizados para a banca serão brevemente reduzidos, falando em RACIONAmento [ó senhor Artur Queirós, anda a dormir? este é um erro de palmatória, aqui só poderia ser usada «RACIONAlização», está esquecido do mestre? não há «retiradas», apenas «reposicionamentos estratégicos»], redundam na gaffe imperdoável de um alarmante discurso quanto ao nível de reservas (continua a referir dados - opacos - de Fevereiro), induzindo ainda maior depreciação da moeda...

O dólar deu hoje novo salto, para mais de 200Kz, no mercado informal.

O medo da ciber-revu

Apesar da fraca taxa de penetração da internet em Angola, cujo acesso se mantém restrito a uma elite, o FaceBook constituiu-se rapidamente como uma plataforma de partilha de informações não sujeitas à apertada e hegemónica censura oficial. Por isso, os bocas de aluguer do regime não perdem uma ocasião para diabolizarem a ameaça que representa para o regime o acesso a informações livres, contrariando as mentiras descabeladas que repetem à exaustão.

Dedicaram à questão dois editoriais nos últimos dois dias, no Jornal de Angola, a Voz do Dono.

Graças ao adjunto, ficamos a saber dos perigos de desinformação que representam essas informações «não confirmadas» veiculadas por tais meios: «quem foi atrás da “má nova” está a constatar, felizmente, que afinal a premonição não passou de uma mentira descabelada», chegando ao cúmulo de insinuar que aquilo que se passou no Sumi se tratou de um suicídio colectivo! Pouco dias depois do dia da liberdade de imprensa, associa esta «a um convite à irresponsabilidade, à proliferação de informações falsas com o claro objectivo de criar um ambiente generalizado de descrédito e, desse modo, caminhar-se para o aprofundamento da crise de valores sociais.» Os maiores expoentes dessa crise são o próprio Manaças, o Director e o Mentor!

Não assinado, mas na mesma ordem de ideias, o editorial de hoje, a pretexto de uma feira de novas tecnologias em Luanda, defende as vantagens da universalização do acesso à internet, MAS...

«Esperamos que as últimas cenas reprováveis, em matéria de propagação pela Internet de conteúdos informáticos que degeneraram em actos criminosos, sirvam como ensinamento para todos os utilizadores das novas tecnologias de informação e comunicação. É verdade que, em muitos casos, o acesso às novas tecnologias de informação e comunicação é feito sem a preparação elementar sobre os conteúdos a inserir e partilhar, sobretudo nas redes sociais onde o aparente “vale tudo” esteja a servir como regra de actuação.»

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Eça agora, ó Queirós!

O discurso do medo. O fantasma da guerra. O apelo à violência. A eternização no poder. A retórica da mentira. A arrogância do vencedor. A ofensa gratuita. Que rica colecção de medalhas que o pseudo-jornalista consegue amontoar num simples artigo de «opinião». No entanto, o mentor de José Eduardo dos Santos (de outra forma, como compreender que estes delírios fiquem sem reparo?), cometeu um erro, desta vez. Comprou guerra com uma força que poderá revelar-se altamente maléfica para os seus desígnios de fossilização da sociedade. Farta-se de soprar, já em tom de falsete, na sua corneta, com ampla difusão e cobertura institucional, mas já ninguém liga aos seus sinais de alarme. Sabe que a sua hora está a chegar: a fuga para a frente é típica dos desesperados. O seu estado psicológico está a assumir claros contornos patológicos. Duvido muito que a pessoa a quem se dirige vista a camisola da UNITA, como quiseram fazer com Kalupeteca (à força de invenções e de verem inimigos por todo lado). Os doentes agudos de paranóia, quando se lhes pergunta quem lhes quer fazer mal, onde está o seu inimigo, respondem vagamente «eles...». Ao jornalista frustrado que opina no Jornal de Angola (a Voz do Dono), sugerimos que, por uma questão de igualdade de género, acrescente à minuta «ou elas...» ou «e elas...» ou as duas coisas juntas e/ou. yô

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Assim num dá, Nunda

O Chefe de Estado Maior angolano, ao assumir em Luanda a presidência rotativa do respectivo órgão CPLP, em substituição do seu homólogo português, produziu declarações centradas essencialmente na Guiné-Bissau:

«Formulo votos de que as suas Forças Armadas [da Guiné-Bissau] tenham, na pessoa do seu Chefe do Estado-Maior General, a mão firme que conduzirá às reformas preconizadas para o sector militar».

Há três anos que José Eduardo dos Santos alimenta essa psicose, em busca de vingança pela humilhação que sofreu nessa altura. Que o CEFMA cumpra acriticamente um guião presidencial sem qualquer nexo razoável, só pode desmerecer o benefício da dúvida que lhe foi concedido pela opinião pública, quando assumiu o cargo, como ex-militante da UNITA.

Também eu quero formular votos, lembrando precisamente a reacção dos militares guineenses em 2012 (não estamos para aturar este arrogante e prepotente! que julga que pode vir dar ordens na terra dos outros). [Aproveite mazé o exemplo dos militares guineenses, e entregue aos tugas o «presente», bem embrulhadinho.]

«Formulo votos de que as suas Forças Armadas [de Angola] tenham, na pessoa do seu Chefe do Estado-Maior General, a mão firme que conduzirá às reformas inevitáveis para o país», face à acelerada erosão do regime e ao risco de o poder cair na rua.

Aponta-se à consideração de Vossa Excelência o exemplo do Burundi, no qual as forças armadas se interpuseram recentemente entre o Governo e a população, dando claros sinais de que não tolerarão mais mortes inúteis.

Antes que querer vir dar lições de moral aos outros, a soldo de um velho decadente, senil e em plena negação, desmarque-se a si e às Forças Armadas nacionais, das agressões e morticínios contra os seus próprios cidadãos.

PS No mesmo contexto de agressão soberana, os Ministros português e brasileiro dos Negócios Estrangeiros reuniram em Brasília com semelhante ordem de trabalhos, sem participação sequer dos interessados guineenses, dando-se ao luxo de emitir declarações conjuntas abusivas, no estilo a que já nos habituaram. Que curiosa obsessão sincronizada!

Director Nacional ridicularizado

Num debate promovido ontem pela TV Zimbo sobre o estado da Liberdade de Imprensa em Angola, Rui Vasco, Director Nacional de Informação, mostrou que não está minimamente qualificado para o cargo que exerce. Perante as câmaras, numa amostra bem representativa da mediocridade do regime, foi completamente cilindrado pela Secretária Geral do Sindicato dos Jornalistas, Luisa Rogério, que confrontou o ignorante com um perfeito domínio dos dossiers. O exercício acabou por redundar numa humilhante gaguez, por parte do representante do poder instituído, que não deixou margens para dúvidas a ninguém, quanto ao lado para que pende a razão.

Marcolino Moco apela à Presidência

«Estou convencido que teremos de resolver este problema de forma pacífica. E era bom que fosse com a colaboração do próprio Presidente dos Santos. (...) É preciso acabar com o caso de prisioneiros políticos e humilhados em Cabinda; acabar com os casos “Rafael Marques”; acabar com os casos “Kalupeteka”, só passíveis de ter lugar, onde o medo de perder o poder e o aproveitamento político não lembram nem ao diabo». Palavras publicadas ontem na sua página da internet, após quase um trimestre de silêncio. Sub-entenda-se: é que se não vai a bem, vai a mal!

Há três meses, em entrevista à Folha 8 de 31 de Janeiro, Marcolino Moco defendia que «está à vista de todos que o MPLA está refém do Presiden­te; o meu problema não é o próximo Presidente ser filho do Presidente (já há e houve muitos) mas a questão do regime (fortes risos), a não ser que ele volte atrás, está à vista que ninguém o vai contra­riar. Agora, o que está fora de caso (risos) é, realmen­te, até onde o Presidente Santos chegou e quer che­gar para teimosamente se­gurar o poder pessoal, até para além da vida, dentro de um Estado proclamado democrático. (...) A situação do BESA devia fazer pensar os que acham que morremos de inveja por não exer­cermos o poder e por isso criticamos ou como dizem “cospe no prato onde co­meu”. É particularmente grave que um Banco Na­cional cubra o crédito mal parado a particulares, nas volumosas somas anun­ciadas, por ordem de um chefe de governo intocá­vel. E, na mesma altura, ou logo a seguir, não há divisas no país. Se vierem coisas piores do que isso, então adeus... Na verdade é o Presidente que, hoje, se tornou refém de si próprio. (...) A úni­ca solução para um governo imediatista é a arte de encontrar “bodes expiatórios” e “desculpas do mau pagador”, o que nas cir­cunstâncias nem é difícil, num país onde se reprime e até se mata quem recla­me. (...) Acredito que um dia o bom senso despertará as consciências dos homens da elite política da minha geração, a tempo que futu­ras gerações não resolvam isso de forma inesperada. Os sinais não andam muito longe e isso não se resolve com eleições sucessiva­mente armadilhadas, para a UA, a ONU e UE verem.»

Entretanto, afastado da política, Moco tem acedido ao pedido de vários partidos da oposição, participando em vários eventos, constituindo-se de certa forma, como uma autoridade transversal. Nesse contexto, são especialmente significativas as suas declarações de que «a única organização que está a tentar actuar com o que a situação exige são os chamados jovens revolucionários que têm levado a cabo manifestações em Luanda de forma pacifica. Isto porque, segundo disse, esse movimento está a colocar a questão politica fundamental em Angola no centro das atenções, nomeadamente o facto do regime não permitir manifestações pacíficas, não dar explicações sobre pessoas desaparecidas, não permitir a liberdade de imprensa e não encontrar quem possa substituir o chefe de estado no poder há 34 anos. Disse ainda que a oposição, particularmente a UNITA deveria tentar enquadrar a resistência dos chamados Jovens Revolucionários encontrando uma plataforma de entendimentos com outros partidos políticos  e todos os outros sectores da sociedade até mesmo dentro do MPLA.» É natural que, não tendo a sua dignidade à venda, sinta uma grande empatia pelos revu.


Quando lhe perguntaram qual era o vício do regime que considerava mais grave, respondeu em entrevista, sem pestanejar: «O culto de personalidade. Há pessoas que pensam que o Presidente da República é insubstituível e que, no seio do partido, não há ninguém que possa liderar o país. Quando o chefe de Estado diz alguma coisa, todos aceitam e não se pode discutir ou contrariar. (...) Encontraram uma forma de eternizar uma pessoa no poder. Nunca tive a ambição de chegar ao poder. Mas, no futuro, posso ter.» Admita, senhor Presidente, que há gente bem mais competente. Não se faça de mouco.

Literatura inflaccionista

«Hoje de manhã, assim que levantei depois de agradecer o 'Ngana Nzambi', fui directo revisar as news no face. Encontrei mambos como: Mel Gamboa desentende-se com o Observatório de Imprensa; filho do Kalupeteca com paradeiro incerto, faz revelações bombásticas; Samakuva vai tocar o apito da arvorada e tantas outras cenas. Tentei molhar os ossos para sair, dei por conta que os bidons estavam vazios. Caralho! Pego no telemóvel trim trim trim, e do outro lado atende: "Alô puto localização?" O puto: Kota tô no Camama I. Eu: "Preciso de água mó ndengue". Passados alguns minutos o puto aparece: "Kota esses mambos assim é sempre bom na Segunda-feira hoje assim complica. Já estava mbora para esticar nas zonas por onde não há água". Eu: "Ya ndengue tens razão, mas é que ontem não dava estava a fazer manifestação pacífica em casa para cumprir as ordens da Mel Gamboa". Agarro em 400kz e pimbas 8 bidons. Depois de tudo o puto berra: " Kota hoje assim é o último dia a pagar por esse preço, pela próxima será 75kz por bidon e o kota como é bué informado nesses mambos de política acho que já sabe o porquê né?" Fiz de conta que não sabia: "Nada puto não sei de nada qual é a dica então?" O Puto: "Então o kota não sabe que o combustível subiu desde a madrugada de Sexta-feira?" Dentro de mim pensei: "Porras malditos ya! Já começamos a sentir as conseguências dos aumentos?" Em seguida disfarcei com um riso irónico e disse-lhe: "Sim ya não há maka vamos pagar por esse preço, fazer o quê? Você nos ajuda muito. Também a culpa não é tua. Tá fixe puto valeu". Depois de tudo peguei em 20kz, para comprar pão daqueles pequenos de cada 10kz, nos Mamadús, assim que cheguei lá 15kz. Pensei novamente, isso é azar meu Deus! "E a propósito ó Ali, como é que foi lá na Esquadra Sexta-feira, quando te levaram? Ele: "O sefi deles les fendeu e falou assim eu mandar vocês pra contolar barrios nó pra trazer estangelos. Depois sefi mi falou assim você pode ir tabalar". Eu: "Bem feito corruptos de merda. É verdade mesmo que você não tem os documentos de estadia?" Ele: mó sefi falou assim já ta resorve". Eu: "Ah ok! E diz-me ó Ali, porquê o pão de 10kz agora passou para 15kz?" Ele: "Oh! O kota nó sabi que o combustívele subiu?" Eu: "Porras mas agora tudo subiu por causa do combustível? No pão vai gasolina? Agora assim como é que vou comer esse ca-pão? Vou trabalhar e só espero que a merda do táxi não subiu também! Toma toma e da-me o troco de 5kz"»

Impressões do Eusébio Maneco, na sua página do FaceBook, a quem agradeço a autorização para publicação.

Chicotada de hipocrisia

O Ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola, ontem, em declarações numa reunião de «Alto Nível» nas Nações Unidas:

«Orgulhamo-nos pelo facto de Angola ser campeã em África da promoção do uso de meios pacíficos, da concertação política e diplomática, bem como na aposta da cooperação económica como parte das soluções para os desafios que afligem numerosas sociedades. Hoje, está provado que o uso do chamado “Soft Power”, o uso de meios não letais e com grande capacidade de persuasão, acarreta mais benefícios que o recurso a meios coercivos»

terça-feira, 5 de maio de 2015

Estranha semi-óptica


A notícia, repassada pela agência noticiosa angolana, de que o secretário de Estado norte-americano John Kerry declarou ontem (segunda-feira) que a polémica candidatura do presidente do Burundi a um terceiro mandato é contrária à Constituição do país (a qual, dada a conjuntura angolana, nunca deveria ter escapado à tesoura dos censores de serviço), vinha acompanhada por uma imagem de arquivo. Um ligeiro zoom efectuado à imagem da France Press (tirada a 9 de Abril, na cimeira entre os Estados Unidos e Cuba realizada no Panamá), faz aparecer, à direita, aquilo que parece outra mão, com o dedo no ar, para fazer alguma pergunta... «_Não haverá mais casos, nas mesmas circunstâncias.?». No entanto, uma pesquisa mais aturada, permite perceber que se trata da mão esquerda de Kerry: «_Sim, sim. Muitos mais.» Seria de bom tom adoptar o mesmo procedimento, em casos similares.


MPLA - Mensalão, Petrolão, Lulão, Angolão

O publicista de José Eduardo dos Santos nas eleições de 2012 apanhado na teia de corrupção para financiar o Partido de Lula, naquilo que mais parece configurar uma vingança política pelo «ataque» a Dilma, precisamente pelas mesmas razões. Cortina de fumo sobre as makas cujas malhas se estendem através do Atlântico, num indigno comércio triangular de soberania, que também inclui Portugal, à revelia dos interesses colectivos dos povos da CPLP, vulgar macaquice invertida do antigo sistema colonial. Siga os links abaixo:





Angolão

SOBRE O PT e o PSDB:

Dizem lá que um não presta
E o outro não vale nada
Que um só faz coisa errada
O outro coisa funesta

De cá, olhando, só resta
Virar o nariz pro lado
Porque o cheiro exalado
É pra fugir, mas não fujo
Sei que de fato é um sujo
Falando dum mal lavado

Ministério da Desinformação

A minha avó, quando eu era pequeno, sempre que desconfiava que estava a mentir, ameaçava: «_Sabes o que é que eu faço aos mentirosos? Ponho-lhes piri-piri na língua!»


Na página do FaceBook do Ministério da «Comunicação Social» angolano, no dia 2 de Maio, Pedro Castro e Silva, do Banco Nacional de Angola afirmava à TPA que «a subida do preço dos derivados do petróleo não vai causar inflação».

Já hoje, como «notícia de última hora», avança-se que a corrida de táxi, que custava 100Kz, poderá sofrer um pequeno aumento de 15%. Estes números fazem evidentemente lembrar o (não) câmbio oficial ao dólar. Partiu de 100, vai oficialmente nos 115, mas, de facto, equivale a 200, na informalidade da rua. A notícia, que era apenas que não houve acordo com os taxistas, deu lugar à tentativa de imposição administrativa de uma referência de preço completamente insustentável em termos económicos. Mas decerto que o senhor Ministro não anda de táxi...

Enquanto o país se verga aos sacrifícios em nome da quebra no preço do petróleo, a «elite» não sente os efeitos da crise. Segundo a VISA, «durante a semana da Páscoa, os angolanos usaram os cartões de crédito para gastar sete milhões de euros (811 milhões de kwanzas), o que representa uma subida de 48 por cento face aos cerca de cinco milhões (579 milhões de kwanzas) gastos no mesmo período do ano passado, disse uma fonte oficial da maior rede de crédito do mundo. “Os espanhóis, franceses e angolanos foram os maiores gastadores com cartões em Portugal”, disse uma fonte oficial da entidade financeira à imprensa portuguesa, sublinhando que “os hotéis, o entretenimento e o vestuário foram os sectores que registaram o maior volume de transacções”.»

Incrível é que o Jornal de Angola tenha colado essa notícia a outra: os incapazes, medíocres e corruptos do Governo português financiam pessoalmente o ditador com 500 milhões de euros, à custa do contribuinte, já espremido até ao tutano!

domingo, 3 de maio de 2015

3 de Maio - Dia Mundial da Liberdade de Imprensa

Como todos os anos por esta altura, a Freedom House publicou o seu relatório anual, resultado de uma metodologia de observação dos direitos políticos e das liberdades civis, no respeitante à liberdade de imprensa em todos os países do mundo (e algumas zonas disputadas). A novidade deste ano prende-se com uma apresentação numérica do próprio score, que antes era apenas disponibilizado no rating por escalões. A organização aplica uma metodologia de classificação que distingue os países em três grandes grupos: os países livres (até 30), parcialmente livres (de 30 a 60) e não livres (mais de 60): constata-se uma distribuição equitativa das duas centenas de países pelas três categorias, com aproximadamente um terço cada, embora apenas um sétimo da população mundial viva em países considerados livres.

Segundo a FH, a pressão sobre os jornalistas aumentou significativamente ao longo do ano de 2014, com múltiplas origens, citando nomeadamente «a utilização de leis de segurança interna para silenciar vozes críticas, recurso a tácticas de intimidação de jornalistas, e tentativas de manipulação do conteúdo por parte dos donos dos media ao serviço dos seus interesses comerciais».

O relatório, na parte dedicada à África Sub-Sahariana, destaca o salto da Guiné-Bissau, de «não livre» para «parcialmente livre» e refere o péssimo precedente que constitui a prisão dos bloggers etíopes Zona 9. Apresento uma tabela com os países da CPLP, destacando Cabo Verde, o país africano com a melhor pontuação.

Atendendo à revolução do dia de Todos os Santos do ano passado, não há dúvidas que a imprensa do Burkina Faso deu um salto qualitativo, que decerto se notará para o ano, numa tendência consistente de melhoria.


Já Angola, numa já de si lamentável posição, deverá piorar substancialmente a sua pontuação para o ano, se atendermos às preocupações manifestadas pela Freedom House:

«Enquanto algumas partes do mundo se encontram inacessíveis devido ao caos provocado pela violência desmesurada, outras há onde os repórteres são deliberadamente barrados por governos repressivos, tal como acontece no Tibete (...) Activistas, simples residentes, ou cidadãos transformados em jornalistas para a ocasião, tentam disseminar alguma informação, mas não podem substituir o trabalho efectuado por profissionais recorrendo aos meios adequados: é por vezes mais fácil mandar notícias para o exterior, do que contactar audiências dentro da área afectada»


A degradação da Liberdade de Imprensa em Angola, a todos os níveis enunciados pela Freedom House, foi denunciada pela Secretária-Geral do Sindicato dos Jornalistas, Luísa Rogério.

Marketing financeiro para idiotas

As autoridades monetárias, desesperadas por absorver massa circulante e conter as pressões inflaccionistas em troca dos montes de papel que possuem em armazém (a colocação dos títulos do tesouro tem sido tendencialmente nula, como este blog vem demonstrando pela análise dos relatórios semanais do Banco Nacional de Angola), lançaram um Fórum nacional de Investimento em Dívida pública «com o objectivo de dinimizar o mercado secundário», publicitado pela Agência Noticiosa oficial. Vai ser difícil minimizar os estragos e dinamizar a venda de títulos do tesouro: só um regime onde a arrogância impera, pode alimentar a pretensão de fazer de burros os seus cidadãos. O marketing monetário utilizado poderia ser acusado de enganoso (para evitar o termo «burla»), se não fosse tão estúpido.

Oferecendo uma taxa de juro nominal inferior a 10% ao ano, tal investimento pressupunha confiança no Governo, que a taxa de inflacção real mensal se mantivesse bem abaixo de 1% e que o câmbio ao dólar não resvalasse. Com um cenário tão animador, não se compreende a falta de adesão a instrumentos financeiros tão competitivos no mercado internacional (ver folheto) conhecendo o grande número de capitalistas angolanos, fruto da consistente política de acumulação primitiva promovida por José Eduardo dos Santos. É decerto uma conspiração do mercado, dado que a procura não excede 1% «dos Títulos de dívida pública já emitidos» (mesmo essa ínfima parte, não foi de livre vontade, mas enfim...).


Uma vez que o regime se recusa a indexar o kwanza ao petróleo, talvez devesse indexar os salários à gasolina.

Brevemente, em vez de ordenado, receberão TTs de «alta liquidez». Um milagre do capitalismo de Estado...

Ou a institucionalização da palhaçada?

sábado, 2 de maio de 2015

Mudança geracional em Angola

Palavras finais de Mfuka Muzemba em entrevista a'O País: «Entendo que o meu esforço de agora é desencadearmos um movimento no âmbito de uma plataforma de intervenção e cidadania para que os jovens consigam manter um espaço permanente de debate sobre as grandes questões do país. Para começarmos a preparar uma geração. Eu vou-lhe dizer uma coisa: a realidade do país nos próximos quatro ou cinco anos será diferente. O cidadão vai falar mais alto do que os partidos. Há uma geração que está a emergir e com bastante satisfação. E é isso que me faz acreditar que mantenho a convicção de que o país pode ter futuro com essa geração. É uma geração em que fazem parte jovens ligados a vários partidos, mas que se vai autonomizando. E é esta geração que vai provocar a mudança qualitativa que se espera.»

Alguns activistas já foram libertados

O jornalista da Rádio Despertar Daniel Portacio insiste com a Polícia para ser devolvido ao local da detenção, onde tem o carro estacionado.

Outros activistas começam a ser libertados.

Prisão de Mário Faustino

Confirma-se a prisão de Mário Faustino, mentor e porta-voz da manifestação de desmobilizados, bem como dos restantes elementos da organização.