quarta-feira, 2 de setembro de 2015

O passador está roto

Empate técnico. A Igreja ainda tem quem lhe salve a face. Sem querer fazer como alguns, pretendendo ao Seu lugar, lembro aquele diálogo em que se negociavam almas, pedindo Deus à frágil natureza humana, uma pequena amostra da divindade do Homem, nem que única. O Arcebispo de Saurimo, dobrando o sino de uma revolução inevitável, vem redimir as máculas de seus pares, tomando a cruz da verdade, e prestando-se ao Calvário. Bem aventurado mártir da Igreja, proponente para substituir os jovens na prisão e na vocação. Aliás, o seu discurso foi bem mais acutilante e perigoso que o dos jovens... Um GRANDE HOMEM, à altura dos seus votos, agora sob a especial protecção de Sua Santidade, como organizador da Sua visita ao país.

Mas voltando a colocar os pés na terra, porque quando a esmola é muita o pobre desconfia, o mais incrível é que seja o semanário O Sol o arauto do Manifesto. Há poucos meses seria impensável o crivo da auto-censura deixar passar um grumo destes! Deverá ser lido como uma "nota de cobrança coerciva"? Em casa onde não há pão, toda a gente ralha e ninguém tem razão... Por falar em «grande» homem, eis o comentário que acabo de colocar, reagindo a uma pretensiosa e inacreditável campanha de propaganda do regime via Facebook, para a qual um comentário malicioso do meu amigo Dago me chamou a atenção.


«O que eu não percebo é: onde está o grande homem? O que está curvado não é. O outro é um ditador sanguinário e cruel, que mantém a juventude mais promissora de Angola sob cárcere privado. Um grande homem visitaria as masmorras e inquiriria um por um, aqueles que mandou aprisionar por delírio paranóico. Um grande homem, pediria desculpas às famílias das vítimas do monte Sumi. Pediria desculpas aos seus concidadãos pelo mal que tem feito ao país. Diria mais: um grande homem, na sua situação, suicidar-se-ia. Um grande homem teria a vergonha de dar a cara, não se esconderia atrás de máscaras baratas made in China, compradas a crédito na terra, para pagar no além, com a benção de sangue de um qualquer Arcebispo. Um grande homem libertaria imediatamente os jovens! Um grande homem devolveria a dignidade aos angolanos. A menos que tenha existido um crop na foto, não vejo grande homem nenhum. Para mim grandes homens, são grandes líderes africanos como Nelson Mandela, Amílcar Cabral ou Tomás Sankara. Aquele que vejo na imagem, não o considero sequer 'médio', na minha opinião é medíocre. Não só não merece ser apelidado de «grande», como, pelo contrário, se está a tornar cada vez menos um estadista. Não, não vejo nenhum grande homem nesta foto. Na melhor das hipóteses, vejo um velho destrambelhado em queda aparatosa, deixando ao seu país uma terrível e pesada herança. E, como se não bastasse, a tornar-se odiável, tal como o Presidente ilegítimo do Burundi, tentando impor-se à força. E não serão um milhão de perfis facebook forjados, fantasmas animando uma ignóbil, repetitiva e mal encenada bajulação, que salvarão esse homem de definhar pela sua própria pequenez. O feitiço do dólar voltou-se contra o feiticeiro, que, afinal, não tinha quaisquer poderes: não passa de um charlatão, que, para cúmulo, encarnado em titã, ousa desafiar Deus na sua própria Casa, sem que o Papa o excomungue, pelo peso dos seus pecados, para grande vergonha da Igreja. Grande homem, não será de certeza. Uma grande besta, isso sim!»

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