sexta-feira, 15 de maio de 2015

Revolução popular no Burundi continua

Confirmada a entrada no país do Presidente deposto Nkurunziza, por via terrestre, com o cínico beneplácito do Presidente do Rwanda (apesar de há cerca de uma semana este lhe ter pedido para dar ouvidos ao seu povo), entrando pela cidade fronteiriça de Negozi, seu bastião; foi entretanto anunciada a sua partida para Bujumbura, um percurso de pouco menos de 100Km. Puderam-se ouvir, partindo ruidosamente do centro de  Bujumbura, algumas viaturas de apoiantes fazendo-se à estrada para o irem receber. Elementos de uma sinistra milícia presidencial com vocação para esquadrões da morte, esperam a chegada do presidente: comparem-se as dezenas de milhar de anteontem com as dúzias de que falava há pouco o correspondente da BBC.

Enquanto isso se passa, um importante documento (que pode mesmo ser considerado de precedente a nível mundial), uma carta aberta assinada por quatro ex-presidentes do Burundi, vem desautorizar Nkurunziza e reforçar as firmes convicções da revolução popular, que exige que Nkurunziza retire a sua candidatura a um terceiro mandato. Enquanto isso, neste momento, as milícias gritam na rua, em jeito de provocação: «Acabou-se o reinado de Niyombare [chefe dos amotinados, cujo paradeiro é de momento desconhecido], viva o PRIMEIRO MANDATO de Nkurunziza».

Após o lamentável caso da surreal rendição da segunda figura golpista, que terá atraiçoado o líder e sido cooptado pelo Presidente deposto, teme-se, à boca pequena, segundo o jornalista do Le Monde Jean Pierre Remy, uma sangrenta repressão. Em muitas zonas do país, a própria polícia tinha aderido ao Golpe de Estado consonante com o desejo de Revolução Popular (muitos dos chefes de posto foram presos). O que provocou uma reacção popular de indignação e repúdio, acusando o falhanço militar de ter quebrado o levantamento popular. Em Musaga, a população interpôs-se entre a polícia, que vinha prender os «cabecilhas» e a barragem dos militares golpistas. Num momento de tensão, a polícia chegou a disparar por cima da multidão. Os militares acabaram por ser eles próprios a levantar a barragem e a sugerir à polícia que se acalmassem...

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