sexta-feira, 1 de maio de 2015

A derrota da FrançAfrique

O livro, dedicado à Costa do Marfim, que será apresentado no dia 7 de Maio, da jornalista Fanny Pigeaud, assume-se como representativo de uma nova forma de encarar o jornalismo relativo às questões africanas, em França. Com uma imprensa tributária do politicamente correcto (versão oficial e manipulada), este livro, que coloca em evidência as graves responsabilidades da França nas atrocidades do regime, vai incomodar não só o regime de Ouattara, como também muito boa gente em Paris, e talvez contribuir para uma nova forma de encarar as relações com África. «Os observadores começam a abrir os olhos», termina o artigo do Le Quotidien.

Um dia antes, no dia 6, sobe à apreciação da Assembleia Nacional francesa, relatório de duzentas páginas co-redigido por Baumel e Guibal, muito crítico quanto às promíscuas relações alimentadas pelo Estado francês com muitos países africanos. insurgindo-se contra o apoio a ditaduras. O relatório começa por Paul Biya, dos Camarões, que consideram «um regime ilegítimo, que se tenta aguentar frente a múltiplas explosões graças à repressão, um forte aparelho de informações e forças especiais, nomeadamente a Guarda Presidencial». O relatório está a incomodar, o que levou o jornal dos funcionários da Assembleia Nacional a considerar o escrutínio dos deputados como inédito, na V República: «Du jamais vu!».

A esta evolução da política externa francesa, não será alheia a constatação do crescimento de sentimento anti-francês junto de muitos africanos, exposta nas crises maliana e centro-africana. Num louvável mea-culpa estratégico, o Primeiro-Ministro terá feito uma avaliação crítica da operação «dunas». O peso dos riscos apontados aqui neste blog a essa «visão» estratégica, agora descartada, ficaram claramente à vista: «essas intervenções militares sucessivas não induziram uma pacificação durável, muito menos uma paz definitiva. Esta situação não é portanto sustentável, nem em termos políticos nem militares, tanto em termos orçamentais como de imagem do país». A reacção de alguns dos incomodados foi estranhar que os media tivessem tomado conhecimento dos textos...

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