sexta-feira, 3 de outubro de 2014

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Daba Naualna apresentou o tema «As Forças Armadas no Estado de Direito Democrático: que reformas», no colóquio comemorativo dos 20 anos de abertura à democracia, cujo ficheiro audio foi disponibilizado pelos IBD através do YouTube.

Num tom de extrema gravidade, começou por denunciar as promoções per saltum, numa clara alusão ao processo de graduação e indigitação do actual Chefe de Estado Maior das Forças Armadas. Como falar de reformas, sem saber o que está mal, sem fazer o diagnóstico da actual situação? (Um estado de total desorganização, do qual deu apenas como exemplo o aspecto administrativo, para não fragilizar as Forças Armadas). Falou da ausência de Regulamento Militar e das sucessivas propostas para a sua Reforma que ficaram na gaveta. Não teria feito mais sentido avançar primeiro com uma reforma estrutural, legalmente consagrada e estabelecendo critérios objectivos? A opção pela qual enveredou o Presidente terá criado, nas suas palavras, um beco sem saída. Transparecem, do discurso de Daba Naualna, carregadas tensões, ao mais alto nível.

Efectivamente, Daba Naualna é uma peça chave no complexo puzzle que são as Forças Armadas da Guiné-Bissau. Chefe de Gabinete dos últimos quatro CEMFA, desde Tagma, Zamora, António, e, agora (e por enquanto, como frisou) de Biague. A apreensão que demonstra, tendo «sobrevivido aos perigos, até aqui», é decerto um péssimo sinal, de que algo vai mal: «Não pensem que [nós, militares] estamos à vontade com o que está a acontecer.» Como sempre, os protagonistas, «ou apanham ou sobrevivem» (palmas)... Numa nota mais informal, ainda acerca das promoções «se houver conflito, promove-se» [os que estiveram do lado certo, claro] (risos).

No curso da entrevista critica ainda a visão redutora segundo a qual a propalada Reforma significa aniquilar as Forças Armadas, para, «sobre os seus escombros» construir algo inteiramente novo; ou a perspectiva de quotas étnicas. A Daba Naualna (que, diga-se, teria dado o CEMFA ideal), parabéns pela coragem! E ainda bem para a instituição militar, pois possui elementos rectos, responsáveis e conscientes, com a auto-estima necessária (poderia recorrer a uma analogia leguminosa, «tomates», para não usar um palavrão) para chamar os bois pelos nomes. Para já, a única reforma nas Forças Armadas, consiste em «jobs for the boys». É só juntar o resto das peças ao puzzle...

3 comentários:

Anónimo disse...

Penso Daba tem a razão, si quisermos uma justa reforma temos que ter respeito para com un a outro, iniziando com a reforma estrutural em todos os niveis do stadi, invez de falar sempre da reforma da força armada, penso também que falar da reforma da força armada Como prioritario lhe considero falso prioridade. Temos que respeitar-nos , criar condições para un dialogo serio e permanente em modo da crear clima de confiança e aprassimaçao entre nos mesmo.

Anónimo disse...

Caro amigo, o Daba não tem razão nenhuma! Pois ele próprio está ferido de ilegalidade! Pois, porque ele Daba entrou na Junta Militar no ano 1998, quando antes era jornalista de uma rádio, e hoje é Tenente-Coronel! Alguns que lutaram contra os colonialistas Portugueses e outros que entraram nas forças armadas em 1987 ainda continuam capitães e major! Acha que ele tem razão para dizer alguma coisa? Porquê é que ele não falou durante os últimos tempos da transição? Com o descalabro que estava acontecendo? Porque ganhava com aquilo?
Mesmo as crianças já toparam...que fará os adultos???!!! O Dabana é bem falante, como qualquer bom advogado ou jurista...ou bom aluno de Direito! Mas, por enquanto, está no lado errado da barricada! Onde não devia, por ser mestre ou licenciado de/em Direito! Talvez as circunstâncias o obriguem?! Sabes lá... Peço desculpas por qualquer erro que possa cometer...

Ps: Por favor publique esta minha opinião!

7ze disse...

Meu caro, as pessoas não podem ser «feridas de ilegalidade». Só os processos. E quando tratamos de «processos históricos», a coisa complica-se. É claro que a revolução bolchevique, visto pelos olhos da polícia czarista, seria declarada «ilegal», para não dizer «terrorista» e o mesmo teria acontecido ao 25 de Abril, que seria considerado crime, se a «velha senhora» tivesse conseguido resistir à onda que varreu a praia. Se procura resposta à questão da promoção, poderá ouvir as declarações do próprio, que esclarece que estas se devem processar com base no trabalho e no mérito, e não no simples passar do tempo. É que Daba, para além de bem falante, como afirma, também é bem pensante. E estou em crer que, se hoje se vive numa certa estabilidade, a possível, muito se lhe deve. Quanto ao ser «obrigado» pelas circunstâncias, ele próprio o esclareceu também: será de estranhar que quem tenha família queira sobreviver?!

E aqui, não se publicam opiniões a pedido, muito menos se fazem favores. Os únicos critérios são os da cortesia da abordagem e da relevância do contributo.