quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A morte de Cabral, segundo Alpoim Calvão

Esta opinião foi partilhada com jornalistas da Lusa há cerca de 10 anos.


«Negando o envolvimento de Portugal na morte de Cabral - "não tinha interesse nenhum, pois Lisboa queria dialogar" -, Alpoim Calvão afirmou que o PAIGC poderá ter estado envolvido na morte de Cabral, "uma vez que havia clivagens entre os cabo-verdianos e os guineenses, por aí também se pode ir lá. Na sequência da morte dele, quantos homens foram fuzilados pelo PAIGC, como ajuste de contas?»

Não se livra, no entanto, de certas suspeitas, havendo no blog de Luís Graça quem questione «um facto de que ninguém fala, um facto que não deixou rasto, a presença de Alpoim Calvão na Guiné em Janeiro de 1973. Que foi fazer a Bissau nessa data se era Comandante da Polícia Marítima do Porto de Lisboa? Na biografia que publicou – que alguém escreveu com os dados que ele forneceu – não consta qualquer viagem à Guiné nessa data. Mais: completamente a despropósito até tenta arranjar um pseudo alibi para aquela mesma data em que esteve na Guiné, em Janeiro de 1973. Sabe-se quando ele chegou, mas não se sabe em que dia partiu. Nem o que andou a fazer. Este facto já foi referido publicamente, já foram pedidos esclarecimentos, mas ninguém ligou nada. Nem o J. P. Castanheira, nem o russo que investigaram a morte de Cabral sequer puseram a hipótese de Calvão ter chegado à Guiné numa viagem-mistério duas ou três semanas antes do assassinato.» 

Calvão, um militar que se definia a si próprio como gostando de «fazer coisas», estava a montar, por essa altura, com o novo Ministro da Defesa e ex-Ministro do Ultramar, Silva Cunha, um serviço de informações tácticas militares, que viesse suprir a incompetência da PIDE no apoio operacional aos militares (que se revelara desastroso na Operação Mar Verde). 

Alpoim Calvão morreu ontem, já não poderá esclarecer essa questão. Foi, sem dúvida, um grande militar. Depois do 25 de Abril, acompanhou Spínola no exílio em Espanha... na opinião de Salgueiro Maia nas suas memórias, terá contribuído para pintar o cenário de negro carregado, para forçar o General-Presidente a avançar.

Voltou à Guiné-Bissau como empresário, criando nas Bijagós uma fábrica de transformação de caju que chegou a dar trabalho a 200 pessoas.

Glória ao Sr. Capitão-de-Mar-e-Guerra. Que a terra lhe seja leve, o céu azul e o mar verde.

1 comentário:

Retornado disse...


Quando se pergunta sobre o assassinato de Amílcar pela PIDE,os guineenses (povo antigo) fazem aquele ruído com os lábios, como quando se sorve o sumo doce/áspero do fruto do cajú fresco.