terça-feira, 26 de junho de 2012

Bons exemplos de Angola

O «modelo» angolano também tem coisas boas. 

Em tempos de crise na «metrópole», avivaram-se as reminiscências da antiga colónia: a relativa paz e estabilidade do regime conseguiu criar o sentimento, junto dos antigos colonizadores retornados, da oportunidade e «viabilidade» de uma nova implantação.

Com a Europa em crise, o óbvio excedente de mão-de-obra qualificada (agora desocupada) permitiu ao Regime angolano dispor de uma base de recursos humanos, de quadros qualificados, dispostos a investir o seu futuro numa economia com grande potencial...

Mas há um grande problema a resolver: essa participação branca no desenvolvimento não pode hoje ser feita como o era há quatro décadas atrás, a coberto de um sistema administrativo colonial. Surgiu então o sistema de «parceria» indígena.

Qualquer empresário estrangeiro que pretenda estabelecer-se, nunca o poderá fazer na base de livre concorrência, pois nunca mais se livrará de um pesado e autoritário sistema de corrupção, apenas destinado a instituir, nessa «troca», o poder «local».

Este protocolo institui um contra-peso formal (a «angolanidade» de parte do «capital») supostamente garante do bom «despacho legal» dos assuntos e da «protecção» da propriedade envolvida, contributos imateriais mas perfeitamente incontornáveis.

Poderíamos acrescentar que, se o princípio parece bom, já a forma como a coisa é feita, graças a um «tributo» mental anti-colonial, é decerto indutora de um elevado nível de «stress», fomentando a manutenção de pseudo-elites e o reforço da teia de corrupção.

A sujeição dos candidatos a «colonos» aos «donos» da terra permite decerto a tranquilizadora visão de uma sustentabilidade endógena, mas a tessitura parece feita de uma ilusória superficialidade... ao basear-se numa compensação histórica (por inversão).

É que a afirmação de uma identidade não pode ser feita exclusivamente com base no poder que o dinheiro consegue comprar, por imenso que possa parecer (sobretudo quando a imensa maioria dos angolanos se vêem excluídos de participar dos seus benefícios).

O orgulho de ser angolano terá de buscar outras origens, num desenvolvimento económico-social credível, na formação de quadros competentes, na aposta de o seu país se tornar um bom exemplo para África (que talvez possam então ajudar a «crescer»).

Uma identidade não pode basear-se na simples promoção de um mito de superioridade traduzido num discurso tipo «Se quiserem o nosso dinheirinho, têm de se agachar», sem correr o risco de relançar um outro apartheid (de auto-exclusão em condomínios).

Angola teve o mérito de mostrar um caminho possível para África: chamar quadros europeus competentes mas desocupados para ajudar no seu desenvolvimento, partilhando os benefícios da exploração inteligente dos seus recursos (sobretudo minerais).

Mas esse «modelo», perfeitamente plausível, teria tudo a ganhar em ser pensado em bases mais saudáveis, de verdadeira parceria e cooperação, facilitanto a inserção dos europeus na sociedade angolana, numa verdadeira partilha de objectivos comuns: Angola!

A pessoa melhor colocada para o fazer, para uma alteração estratégica e humana de fundo, essencialmente mental (como se vê reclamar no cartaz da juventude: «Libertem as mentes dos angolanos»), é sem dúvida o artífice da estabilidade política do país.

Justificar-se-ia, no contexto das eleições, uma grande reflexão e debate sobre o assunto, evitando os lugares comuns, os discursos vazios, os projectos sem amanhã, as promessas eleitoralistas gratuitas, tudo efectuado na certeza dos resultados a emanar das urnas.

Angola poderia ser um país de oportunidades para todos, sem complexos (de inferioridade ou de superioridade, vai tudo dar ao mesmo), sem reservas mentais, sem se manter como refém de uma mentalidade essencialmente mesquinha. E teria tudo a ganhar.


domingo, 24 de junho de 2012

Manatim X

Sim.

É bom saber da prontidão das FAP para atender a qualquer situação. Outra coisa não se esperaria, na boa tradição do exército português. Ainda bem que a Guiné proporcionou a oportunidade para o treino e aferição da qualidade e disponibilidade dos meios mobilizáveis. No entanto, no interesse da segurança dos potencialmente interessados (ao contrário da Guiné, onde mal-grado muita insistência não houve qualquer aderente) cidadãos portugueses eventualmente carentes de evacuação tempestiva (embora possam dormir descansados) terão eventualmente de fazer fila (aliás, uma segunda vez, já em 1975 foi a mesma coisa, houve filas em Angola, não na Guiné - deverão ter reparado que evito propositadamente o termo «bicha», para evitar ferir susceptibilidades). Nem ouso avançar com a designação Manatim II, pois arriscar-me-ia a pecar por defeito; o melhor mesmo, caso venha a ser necessário, é chamarem-lhe Manatim 10 (a contar com o desdobramento dos meios, as idas e vindas...) presumindo que a evacuação pelo ar estará interdita (os sírios* lembraram-nos há pouco a eficácia dos velhinhos SAM, invocando esquecidas glórias guineenses)... permitam-me já agora especular um pouco nas entrelinhas das notícias: o bom senso turco, ao reconhecer por via presidencial o próprio erro parece-me altamente louvável! Humildade ou guerra. A paz é sempre a melhor e mais barata opção, mesmo que se tenha de dar o braço a torcer. Isto tudo num curto espaço de tempo, antes sequer de se tornar notícia: as más línguas verão uma inevitável «mão» russa, atalhando cientificamente qualquer «mito» em gestação. Estão todos de parabéns. Um facto que poderia gerar uma guerra (a Turquia pertence à NATO). Finalmente, no mundo, algo a merecer destaque, neste blog, para além da actualidade guineense.


*Ver notícias: DAK síria abate jacto turco sobre a «linha» de fronteira marítima

P.S. Outra leitura possível para o caso do F4 Phantom abatido é tratar-se de uma «encomenda», para justificar uma intervenção militar na Síria. Mas nesse caso, não vai ser tão «simples» como na Líbia; e os russos não vão gostar mesmo nada dessas mexidas no frágil equilíbrio actual... Esperemos que não sejam prenúncios de mau agouro.

sábado, 23 de junho de 2012

Maquiavelismo de Estado

Antecipando a atenção que as eleições vão despertar no seio da Comunidade Internacional, o estado angolano tem-se vindo a manifestar cada vez mais maquiavélico face aos contestatários. A palavra de ordem parece ser «disfarçar» a verdadeira face do Regime, numa operação de cosmética para «inglês ver».


A repressão ao movimento de contestação dos jovens vem da parte de milícias (supostamente incontroláveis mas com a mão do Regime), instrumento que também começou por ser utilizado contra os promotores originais da contestação dos Antigos Combatentes (AC). Ler notícia

Mas os requintes de malvadez tomam proporções draconianas contra os seus cidadãos: um jovem e conhecido rapper, Luaty Beirão, Ikonoklasta de nome artístico, contestatário do Regime, vendo-se pressionado pelo Estado, quis abandonar o país, o que primeiro lhe foi negado; posteriormente autorizado, apanhou o avião para Lisboa, mas enfiaram-lhe 1,7Kg de cocaína na mala e (pasme-se) a denúncia veio de uma instituição oficial. Ler notícia


Também a detenção do General Silva Mateus, no contexto da repressão dos Antigos Combatentes, seguiu um esquema parecido: acusado de porte ilegal de armas (um general!), conseguiu ainda fazer um telefonema para um outro general, no qual nega veementemente a acusação, garantindo que lhe colocaram a arma no carro, tendo depois sido realizada uma «oportuna» vistoria ao seu carro... Alguém acredita ainda? A hipocrisia parece galopante... Ler notícia Não parece bem... Quem brinca com (armas de) fogo, arrisca-se a queimar-se. Se os AC não levaram as armas para a manifestação, talvez tenha sido por civismo, pois muitos deles guardaram a arma.

Estará José Eduardo dos Santos a perder o pé? Desespero? O fim de uma era? Se o sentimento alastra, os «yes, sir» nos quais se apoia o seu regime vão começar a abandonar o navio, seguindo o seu instinto de ratos...

Angola em queda

O Regime angolano «caiu» 7 posições, de 59º em 2010 para 52º lugar em 2011, no ranking de Estados Falhados publicado em Junho pela revista Foreign Policy (lista ordenada por ordem decrescente, na qual os primeiros são os piores), referente a dados entre Maio e Dezembro dos anos anteriores. Com uma metodologia algo «opaca», esta lista vale o que vale, resultando da soma simples de doze indicadores, avaliados numa escala «negativa» de 0 a 10 (o máximo é o pior). Acrescente-se que pode acontecer que, mesmo que um país melhore a sua pontuação, cair no rating (depende do comportamento dos seus «concorrentes» directos), tal como o contrário, aliás.
Depois de recolhidos os dados por cada um dos 12 indicadores, para os quatros últimos anos publicados, juntei num gráfico com esta série temporal a Guiné-Bissau e Angola. Da análise desse gráfico, ressalta que a diferença de posição entre os dois países se deve essencialmente ao dinheiro: menos êxodo para o exterior a partir de Angola e menos «declínio» económico; para além disso, também na questão da «segurança» Angola aparenta uma melhor situação... embora decerto à custa do excesso de zelo de uma exagerada média de polícias por cabeça (sugerimos aos responsáveis por esta lista a inclusão do indicador «corrupção»). Já as desigualdades são gritantes em Angola...

clique no gráfico para ampliar
Já na Guiné-Bissau, os anos de Governo de Cadogo Junior revelaram-se um desastre, caindo a Guiné 14 posições, de 32º para 18º: essencialmente apresentando piorias na falta de legimitidade do Estado, economia, no capítulo da segurança, da fragmentação das elites por facções, e da dependência em relação à intervenção externa (terá sido a MISSANG a prejudicar a pontuação?). Já Angola piorou, entre 2010 e 2011, devido a um agravamento da tensão social, mas sobretudo na falta de legitimidade do Estado, na qualidade dos serviços públicos e no domínio dos Direitos Humanos. Contrasta um pouco com a apregoada «forte» tendência de «crescimento» económico...

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Erro crasso do Regime angolano

Com o jogo de Portugal pela frente, passei o dia a mastigar os acontecimentos de quarta-feira em Luanda. O feitiço (ou «fetiche»?) democrático voltou-se contra José Eduardo dos Santos. Parece-me que é caso para nos questionarmos, à luz dos acontecimentos: quem são os arruaceiros? De um lado, como documentam as imagens colhidas, manifestantes pacíficos, tranquilos, dignos, dando a cara e dispostos a negociar... do outro uma força bruta e autista, apostada numa repressão cega, com cavalos, cães, densidade inacreditável de gás lacrimogéneo, tiros. Contra antigos combatentes? Parece desapropriado... Espacamento de um general? Dois mortos na morgue do Hospital Josina Machel?


As declarações oficiais, através do Governo da Província de Luanda mas reflectindo indicações do Estado Maior das Forças Armadas Angolanas, não poderiam ter sido mais demagógicas: acusando os manifestantes de arruaceiros (até uma teoria da conspiração apresentam, vendo o «fantasma de uma mão estrangeira»), acusa-os de terem promovido «uma série de desacatos em flagrante violação à lei e à ordem, sob pretexto de uma suposta reivindicação de pensão». Ora o Comandante desta «estrutura», o responsável máximo, é o chefe de estado, José Eduardo dos Santos. Está o caldo entornado. Tal como com o Ministro do Chicote em Bissau, as coisas foram longe demais, e já não podem voltar para trás.

Com todas as vias para o diálogo cortadas de forma autista, o regime mostra-se pouco preparado para resolver de forma pacífica e sem recurso a uma violência desproporcionada a premente questão dos antigos combatentes, que lhe está a ser legitimamente colocada, após múltiplas e continuadas (mas infrutíferas) diligências. Em Bissau, os Antigos Combatentes foram chamados ao Parlamento, para o Comandante Injai se justificar dos seus actos e foram tratados com o máximo respeito... Em Luanda, são espancados e intoxicados em pleno centro da cidade. É reconhecível o mesmo «estilo» arrogante que o «queimou» em Bissau: «quero, posso (pagar?) e mando».  Então respeite os compromissos.

E a dignidade das pessoas que se vê em todos os rostos de todos os vídeos que vi? A desmedida ambição em Bissau, quebrou-o, senhor Presidente José Eduardo dos Santos, veio mostrar que não é «invencível» (porque acusa os guineenses de terem criado esse «mito» mas continua a aferir-se a si, que tem menos razão para isso, por um parecido?). Está perante um beco sem saída; é do coração, a bem do povo irmão de Angola, que me permito sugerir-lhe que tenha a humildade de dar a cara pessoalmente (e algum da carteira), evitando assim, no momento certo, mais violência desnecessária. Não errarei muito se disser que, desde o fim da guerra, este é decerto o momento mais crítico da sua carreira.

Encare de outra forma a redistribuição da riqueza gerada do ventre dessa terra, permita e patrocine mesmo o crescimento de novas elites, baseadas não no medo e no seguidismo, mas no mérito, na concorrência leal, no confronto construtivo de opiniões. A paz e a centralização que conseguiu após tempos conturbados, a sua própria estabilidade no poder, foi decerto um grande contributo para o futuro de Angola. No entanto, não ponha em causa todos esses benefícios, agarrando-se a antigos métodos: parece-me louvável a legítima «vontade» que vinha apregoando de democratizar o seu regime; está na altura de mostrar a sua face humana, ou então, e espero que não, terá de deixar cair a máscara.

Excelentíssimo Senhor Presidente de Angola: as eleições serão o seu cartão de visita perante a Comunidade Internacional. Não vai decerto querer estragar a «fotografia» por «dá cá aquela palha». É nestes momentos que se vêem os homens. Esperemos que as restantes obrigações de estado (como a recepção a Primeiros-Ministros depostos) não lhe desviem as atenções do essencial e do bem estar do seu povo. De outra forma, se a coisa lhe vier a correr mal, e atendendo às suas raízes familiares, julgo que a Guiné-Bissau estará sempre de braços abertos para o receber.  

domingo, 17 de junho de 2012

+ Positividade!

Contributo construtivo de uma cabo-verdiana em Angola, no Ditadura do Consenso.

«Sinto que a Guiné-Bissau se perdeu acima de tudo por não ter encontrado um líder (porque não uma líder) capaz de levar o barco a bom porto, pois a Guiné tem gente capaz e intelectuais os quais todos juntos qual Fénix a poderiam fazer renascer das cinzas e exorcizar os demónios que se lhe incrustaram na alma. Esse exercício passaría por uma catarse colectiva, algo como uma Comissão da Reconciliação e da Verdade.»
Nexo à direita >

Lidas as suas palavras, escritas de uma forma tão ponderada e suave, fica-nos até a parecer legítima uma certa «vontade de protagonismo» de Angola... apoiadas na sua «grandeza e generosidade». No entanto, para isso, há que aprender com os erros. Grandeza e generosidade são desprendidos e gratuitos: só fazem realmente sentido num contexto de respeito pela dignidade e identidade dos outros...

Mas também a sugestão de encontrar, já não um líder, mas uma, parece ser uma observação perspicaz. Numa sociedade na qual se pretende vencer uma violência endémica, porque não escolher uma mulher para liderar uma verdadeira «revolução» das mentalidades? Sem cair em feminismos, que a sociedade guineense não toleraria, há gente muito capaz na Guiné, como diz Isabel, das quais também mulheres.

Já aqui falámos, por exemplo, de Carmelita Pires, ex-Ministra da Justiça, que se distinguiu no combate ao tráfico de droga. Não se duvide que poderia encarnar com sucesso essa liderança proposta por Isabel... Mas também temos, em visitas recentes a este blog:

Titina Silá à Liderança!

P.S. Parabéns, Isabel, pelo tom construtivo do discurso. A Guiné precisa de pontes e não de posições obsessivas, ou de gente obcecada. Já Heráclito garantia que não podíamos tomar banho duas vezes no «mesmo» rio...

sábado, 16 de junho de 2012

Paulo Portas vai a despacho

Denovo em Luanda para uma visita relâmpago, Paulo Portas foi recebido durante mais de uma hora por José Eduardo dos Santos, para receber indicações quanto às novas estratégias para a Guiné-Bissau... «conjugação de esforços, no plano multilateral, para encontrar uma solução para a Guiné-Bissau»? Mas a Guiné-Bissau não deveria ter saído da agenda angolana? É que está a tornar-se obsessivo! Parecem aqueles maridos ressabiados que muito tempo depois de divorciados continuam a perseguir as mulheres e ainda fazem cenas de ciúmes!

E, senhor Presidente do grande país que é Angola: que raio de promiscuidade; o protocolo obriga a respeitar as hierarquias, agora trata de assuntos de Estado com simples Ministros (e estrangeiros)? A recepção oficial e mediatizada deveria ser ao mesmo nível, pelo Chicote (se calhar o Paulo ficou com pena, fica para a próxima, pronto); quanto ao Presidente, simples cumprimentos eram mais adequados...

Ao contrário de Angola, onde, para além da agência noticiosa oficial, também a página da casa civil do Presidente dão notícia do encontro; em Portugal, se o Ministério dos Negócios Estrangeiros ainda não publicitou absolutamente nada, sendo a última notícia em destaque do dia 11 («Portugueses esperam que o Estado disponha de capacidades de reacção muito rápidas para protecção dos cidadãos»), já a página do CDS, o PP de PP, se apressou a fazê-lo.


Senhor Primeiro Ministro de Portugal: acha bem ser ultrapassado assim por quem tem ambições políticas hipertrofiadas, em deliberações «instantâneas» de alto nível»? Dá cobertura a um Ministro dos Negócios Estrangeiros (cada vez menos transparentes) com agenda própria, concorrente e completamente autónoma? Terá confundido a diplomacia com uma passerelle? À saída de Luanda (e logo de partida para Paris) Paulo Portas sugeriu à Lusa a sua grandiosa visão para o futuro: os investimentos de empresas portuguesas em Angola poderão ser a chave para ajudar Portugal a sair da crise.

Fontes

Na página do CDS
Na Angola Press
Na Casa Civil do Presidente

P.S. O senhor presidente pisou uma fita-cola com o sapato! Já o fio do telefone era dispensável... À falta de telemóveis, deveriam ter um responsável de Photoshop para «apagar» as borradas. De qualquer forma, o «cromo» está bem melhor que a foto infeliz da tapeçaria das Necessidades: Paulo Portas com fundo branco e claro; José Eduardo dos Santos com fundo escuro e a catana erecta.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Antigos combatentes contestam José Eduardo dos Santos

Como resposta à repressão da manifestação pacífica de antigos combatentes realizada na semana passada, de que aqui demos notícia, constituiu-se uma Comissão de Ex-Militares Angolanos (COEMA), dirigida pelo General na reserva Silva Mateus, que ameaça «descer à rua para interromper o escrutínio» de 31 de Agosto, se não forem atendidas, até lá, as suas reivindicações.

Ver notícia no site do Didinho, clicando no nexo à direita >

Empresários portugueses na Guiné criticam Paulo Portas

«Nestas situações de conflitos, as tomadas de decisão têm de ser bem analisadas e contextualizadas. A nós, que estamos cá há muitos anos, não nos foi perguntado nada, não tiveram o cuidado de nos perguntar o que achávamos daqui», disseram os empresários, que criticaram também a forma como foi comunicado o envio de barcos da marinha portuguesa nos dias a seguir ao golpe, o que "criou problemas" no país.


http://www.ionline.pt/portugal/guine-bissau-grupo-empresarios-portugueses-demarca-se-da-posicao-governo-passos

Que vergonha, senhor Ministro, até a sua diáspora o manda bugiar!

Mais um artigo de Orlando Castro sobre a Guiné

Foi necessário os militares guineenses dizerem que não estão para ser protectorado de Angola para que, humilhada no seu sentimento de potência regional e dona de Portugal, Luanda puxasse dos galões e desse ordens ao reino português para papaguear uma série de asneiras.


http://altohama.blogspot.pt/2012/06/se-hipocrisia-gerasse-empregos.html

Aliança contra-natura

As recentes, absurdas e bárbaras declarações de Ana Gomes, em sintonia com a posição de Paulo Portas, de que «Portugal deveria sujar as mãos» com sangue guineense, são muito estranhas. Ainda há exactamente um ano, no mesmo sítio, a eurodeputada socialista questionava a «idoneidade pessoal e política de Paulo Portas para integrar o novo governo, devido a comportamentos" desviantes.

Apontando o caso de DSK como exemplo de «vergonha» para os franceses, porque, embora soubessem há muito dos seus «podres», não «preveniram» a coisa mais cedo. Lembrando que questionaram Sócrates sobre elementos da sua vida pessoal para abandonar o seu cargo no governo, lamentava na altura que não se fizesse o mesmo aos que entravam para o governo, como Paulo Portas, que ainda tem casos por esclarecer na Justiça.

Ao Jornal de Notícias, fala de «ministro de Durão Barroso que frequentava locais de prostituição em Paris com uma cabeleira postiça». Insinuando que Paulo Portas é homossexual...

Com os devidos créditos ao site Perspectivas, faço um pequeno resumo...

Dizia nessa altura que o líder do CDS/PP não podia ir para o governo porque era paneleiro (embora tivesse sido uma ferrenha defensora do casamento homossexual). A confusão naquela cabeça de galinha é enorme. Resumindoos paneleiros não podem ser membros do governo, porque os paneleiros, como não querem assumir, farão tudo para esconder o facto e, por isso, podem transformar-se em vítimas de chantagem, como a do DSK ou esta que a própria eurodeputada agora promovia; logo, os paneleiros não podem ser membros do governo. Parte de uma premissa para concluir com a mesma premissa! 


Uma galinha tonta e frustrada, feia de fugir, peixeira do pior (quando foi expulsa do Bahrein? e quando foi chorar para as câmaras baba e ranho, acusando Jorge Sampaio de traição por não ter dissolvido a Assembleia?), quando abre o bico, e mostra a língua viperina e a sua monumental histeria, só sai «porcaria». 


No dia 14 de Junho (do ano passado):

http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1877890

P.S. Queremos lá saber se o homem é paneleiro ou o que é que faz com o corpinho... Enigma: de que cor era a cabeleira postiça?





terça-feira, 12 de junho de 2012

Paulo Portas prejudica a imagem de Portugal

Didinho acaba de publicar mais um post. 

Realmente tem razão. Reconheço que é o que parece visto de fora. Agradeço ao Didinho, que assim me permite dar a minha opinião. Alguma coisa deveria ser feita em Portugal nesse sentido. Paulo Portas delapidou em pouco tempo três décadas de tradição de não ingerência da diplomacia portuguesa nas ex-colónias. Sendo uma ex-potência colonizadora, Portugal deveria ter especial cuidado com a senhora diplomacia, que anda por aí pelo mundo. É que à mulher de César não basta ser séria... 
Já alguém disse que, neste contexto, Paulo Portas parece um elefante numa loja de porcelanas.




Ora:
Não tenho quaisquer dúvidas de que a imensa maioria dos portugueses não quer qualquer desforra da guerra colonial.
Muito menos quem por lá lutou.


Lembro as declarações de Salgueiro Maia nas suas memórias (que recomendo a quem esteja interessado em conhecer o «outro lado da barricada» da guerra de libertação: «crónica dos feitos por Guidage» resume bem a situação de superioridade do PAIGC no terreno em 1973) dizendo que respeitava imenso a luta do povo guineense, que lutava por obediência, que foi isso que lhe abriu os olhos para a inevitabilidade de uma derrota militar do exército português e o conduziu ao 25 de Abril; 
lembro o blog de Luís Graça e camaradas da Guiné (ao qual pertence o Embaixador Francisco Henriques da Silva, o qual declara mesmo, nos seus princípios, que recusa qualquer ingerência ou tomada de posição política relativamente à Guiné-Bissau); 
lembro as declarações do Almirante Melo Gomes; 
lembro o povo anónimo, que não percebe nada disto, mas se lhes perguntassem responderiam a 90% algo tão simples como «Então não pediram a Independência? Nem mais um soldado... Alguns desses, mais forretas, acrescentariam mesmo nem mais um tostão.

Forças Armadas Angolanas de parabéns

Num artigo publicado hoje no Jornal de Angola, por um dos jornalistas do regime, fica plasmada a posição de Angola. Só pena que tenham copiado o título da imprensa portuguesa quanto à missão Manatim.

Despudoradamente, a voz do $ assume, no texto, o bem fundado da acusação do Comando: «Não se entende como é que António Injai apenas se lembrou praticamente um ano depois que o exército do seu país corria o risco de acabar». «!» Confessam então? E o resto, claro: Angola julga que, depois de uma esmola, se lhe fica a dever eterna gratidão e sujeição, nomeadamente relativamente às pessoas honradas, como George Washington, Abraham Lincoln ou o General Grant.

http://jornaldeangola.sapo.ao/19/46/um_exemplo_de_prontidao_e_de_disciplina

Independentemente do que aqui escrevi contra o princípio da missão em causa, as chefias da MISSANG estão realmente de parabéns (sem qualquer ironia). Mantiveram-se discretos e as circunstâncias não devem ter sido fáceis.

Claro que, ao tom muito «calmo» da análise oficial, era necessário juntar uma pequena nota informal: um gigantesco empréstimo à Guiné (atenção, que continuamos a brincar com os nomes) mas Conacry: bem mais de uma dúzia de vezes mais do que o que gastaram na Bissau com a MISSANG. O problema não é quanto é que deixaram de gastar, mas sim, qual seria o preço...

Não querem uns, há mais quem queira.

domingo, 10 de junho de 2012

Mais um grande e belo contributo de Filomeno Pina

Publicado pelo Didinho (para ler, seguir nexo à direita), de leitura obrigatória. Tentativa de esconjurar alguns fantasmas, espectros à espreita na sombra. Com recados óbvios para Angola, sobressaindo aquele que reage a um certo sentimento (quase «omnipotente») de superioridade proporcionado pelo dinheiro: isso tem limites, há coisas que não estão à venda, nem se podem trocar por dinheiro, sem perder a dignidade.

Mas sempre com uma forte nota de esperança, rimo-nos com a anedótica proposta de aproveitar o barco que está em Bissau para «exportar» para Luanda alguns políticos da praça, e apreciámos especialmente a figura utilizada para descrever a atitude de indiferença dos guineenses para com os seus dirigentes: como se estivessem à frente de uma montra, com dinheiro no bolso (ena!), e... (bem mais improvável ainda, pois, na boa lógica político-económica maltusiana, se os recursos são forçosamente limitados, já as necessidades são ilimitadas) ...não lhes apetecesse comprar (xi!): é a moral da história de Pedro e o Lobo, ou do provérbio «tantas vezes o cântaro vai à fonte, alguma vez se há-de partir», tantas vezes foram enganados...

A principal mensagem parece ser a necessidade de não perder este «comboio», de pensar bem o futuro, de escolher tanto as pessoas certas como um modelo adequado de sustentabilidade política para um desenvolvimento credível... Estamos, claramente, perante um problema de governança, de  responsabilidade, de elites, de competência, de liderança, de mérito, mas também, amor pela Guiné.

sábado, 9 de junho de 2012

CPLP instrumentalizada

A CPLP, que se pretendia uma instituição cultural, está irremediavelmente a perder a poesia.

Ao ser instrumentalizada por interesses económicos pouco claros; ao pretender assumir uma função militar, policial e de controlo da soberania (assumindo foros de ingerência) dos estados membros, para a qual não foi mandatada; ao dar cobertura diplomática, com pompa e circunstância, a representantes de Governos depostos; ao manter aceso um nível de pressão exagerado sobre uma situação que lhe escapou, abrindo assim, legitimamente, caminho a todas as suspeitas acerca das suas reais motivações...

apenas reforça a posição contrária, gerando uma onda de simpatia já manifesta tanto na oferta da Nigéria para ajudar a pagar salários em atraso, como na da França, que se dispôs a ajudar em força aos primeiros sinais de se começarem a resolver os verdadeiros problemas.

Na reunião de ontem, em Abidjan, esta organização continuou a insistir num diálogo de surdos (versão III ou IV). Insistem em incomodar as pessoas, na casa delas, sem acrescentarem nada de novo para além do já estafado ressabiamento da instituição, arrastada assim para a lama da baixa diplomacia... Nota-se um ligeiro barulho de fundo, mas pouco mais. Mais uma reunião? Para quê? Para voltarem à vaca fria? De alto nível? Isso quer dizer o quê? Que Paulo Portas participa? Mas isso então é de baixo nível!

A CPLP deveria estar mais ocupada na promoção da língua portuguesa (ou mesmo no estudo dos vários «crioulos»). Onde estão as estratégias interculturais de real alcance? Onde um intercâmbio escolar significativo? Onde está uma verdadeira cooperação para além do novo eixo Lisboa/Luanda (com participações cruzadas)?

Para não ser fastidioso, transcrevo só os primeiros pontos dos seus objectivos constitutivos, segundo o publicado na página oficial cplp.org:

Igualdade soberana dos Estados membros;

Não-ingerência nos assuntos internos de cada estado;

Respeito pela sua identidade nacional;

Reciprocidade de tratamento;

O pleonasmo no objectivo de promover uma «cooperação mutuamente vantajosa» (pois havia de ser o quê? isso está implícito na própria palavra) apenas demonstra o grande vazio de ideias desta organização, mesmo se decerto nascida de intenções generosas... Fizeram-se a voz de um novo modelo neo-liberal de colonialismo político-económico? A recente postura da organização relativamente à Guiné configura, no mínimo, uma flagrante e grave violação dos quatros primeiros princípios da organização!

Triste. A língua portuguesa é muito traiçoeira, mas não merecia este descrédito. Não haviam necessidades! Note-se que o Brasil se fez representar na reunião, por via das dúvidas...

P.S. Para quando a adesão de Cabinda à CPLP? Sobre os últimos acontecimentos, as sevícias impostas a esse povo nesta nação de língua portuguesa ocupada e esquecida, ver o blog de Orlando Castro (sempre actualizado), seguindo o nexo à direita.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Manecas apela à Ditadura Militar

http://www.gbissau.com/?p=1083

Embora, neste momento, o tom da meia-dúzia de comentários seja desfavorável e lembre sobretudo a «falta» de ética e de «moral» do Comandante, recordando o seu passado junto de Nino, parece relevante que mais de dez vezes mais pessoas recomendaram o artigo através do FaceBook...

A preocupação de Doka sobre o assunto:
http://dokainternacional.blogspot.pt/2012/06/manecas-santos-agorapreocupado-com-as.html

A sua própria falta de credibilidade, devido ao seu passado e aos erros que cometeu, paradoxalmente, tornam insuspeita e «gratuita» a sua opinião, que deveria ser considerada «por si» e avaliada, naquilo que, como simples opinião, merece reflexão.

Mudança de atitude

O CEMFA António Injai, que logo nos dias a seguir a 12 de Abril, primava pela discrição, ontem metamorfoseou-se em One Man Show e ganhou o gosto à exposição mediática, desdobrando-se em iniciativas e presenças frente às câmaras e microfones.

Pronunciou-se sobre a retirada da MISSANG, propôs-se filmá-la em vídeo; deu parte dos seus planos de carreira para o futuro, de uma partida para a reforma a «médio prazo», do retorno ao P.A.I.G.C. e à política activa; convocou os Combatentes da Liberdade para uma conversa olhos nos olhos e solidarizou-se com os seus rendimentos de miséria; «cagou» para os bancos (europeus e outros) desafiando quem saiba de alguma conta sua a denunciá-lo (com prémio e tudo! de um milhão - a pagar em cash, claro, pois não usa cheques).

O que justificará esta mudança de atitude? Mudou de opinião quanto à dose ideal de protagonismo? Não teme que isso seja visto como um sinal de fraqueza? Até aqui, o que mais contribuiu para o sucesso da «clarificação» foi decerto o facto de o Comando aparentar ser movido por uma decisão colectiva, não andar às ordens de uma única figura ou de interesses particulares... Não deveria deixar o senhor Porta-Voz fazer o trabalho de relações públicas? Cada um nas suas funções, mantendo a coesão da cúpula.

Ou então, se tomar o gosto à política ainda no activo, mudem de estratégia, dispensem a farsa «democrática», assumam o poder, garantam a estabilidade, acabem com o tráfico no país para ganhar credibilidade internacional, arranjem bons técnicos em governação, negoceiem as concessões mineiras, ponham a Guiné a andar para a frente; o dinheiro aparecerá, os ordenados da tropa serão pagos a tempo, haverá reformas condignas para os Antigos Combatentes, a Guiné dará ao mundo um exemplo, todos poderão andar de cabeça erguida...

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Captura em video?

O CEMFA prometeu hoje mostrar o potencial bélico que Angola colocara em Bissau. Em vídeo apenas? Olhe que ainda o acusam de conivência no tráfico de armas. O navio não deveria ser inspeccionado pelas Alfândegas antes de poder deixar o porto de Bissau? Pelos vistos pagaram todas as taxas de reexportação exigíveis...

Enquanto isso, o General Correia de Barros, do Centro de Estudos Estratégicos de Angola, criticou a própria missão da MISSANG: defendendo que a cooperação, em matéria tão sensível como a Defesa, nunca deverá ser efectuada numa base bilateral, mas ao abrigo de organizações internacionais como a ONU ou a UA, ou no seio de organizações sub-regionais, como a SADC ou a CEDEAO... com o inconveniente suplementar, neste caso, de Angola não pertencer à CEDEAO e Bissau estar demasiado «fora da área geográfica e organizacional» angolana, reconhecendo perante a Radio France Internacional que o seu país demonstrou precipitação e nervosismo em todo o processo.

Papel do papel (€) no papel de Presidente (só no papel)

Cadogo continua a proclamar a sua legitimidade perante instâncias internacionais, não se percebendo bem se a título de Primeiro-Ministro demissionário, se a de candidato (inconstitucional) a presidente, afirmando-se disposto a contratar uma equipa de advogados para processar os autores do «golpe». Talvez se possa servir da mesma equipa para se defender, a si e já agora ao Almirante Zamora Induta, dos processos de acusação relativamente ao assassinato do político e intelectual do PAIGC, o seu rival Helder Proença. Talvez facilitasse as coisas se optasse pela sua vocação de empresário de sucesso, voltando à Guiné-Bissau como simples cidadão para tratar dos seus negócios: contente-se em ser o homem mais rico da Guiné. Aliás, a promiscuidade entre as duas coisas, o seus negócios e o Estado, foi um dos factores que conduziram à actual situação...

7 e 7 são 14

«Mataram Ansumane por lhes tirar os galões; mataram Verissimo por lhes dever salários; mataram e confessaram ter morto Tagma, por lhes querer tirar o tapete da cocaina (brevemente saberemos); mataram Nino porque Tagma lhes deixara sentença pós-morte.» Comentário anónimo

Saudades dos tempos de unidade nacional... Amanhã comemorar-se-ão 14 anos do 7 de Junho, grande epopeia do povo guineense, numa segunda Guerra de Libertação.


Ver Ansumane furioso a tirar os galões, já com semblante carregado...
http://www.youtube.com/watch?v=TjmW5f_Zwoo

Grande reportagem de Carlos Narciso em Janeiro de 1999, com extensa entrevista a Tagma, de uma cativante humanidade e simplicidade:
http://www.youtube.com/watch?v=bQs4UUeuV5Y

Está na hora de acabar com as mortes. Só a merecida dignificação da carreira militar, o orgulho de pertencer a um exército invencível, poderão acabar com a tentação de usar o poder das armas para garantir algum rendimento (mesmo «sujo»)... É na tropa e na emergência de chefias claras e aptas, que se terá de procurar a solução para uma estabilidade que permitirá adquirir a necessária confiança dos investidores externos para um aproveitamento sustentável dos extensos recursos da Guiné, que economicamente beneficie todos os seus filhos e valorize a sua identidade no continente como um modelo, que já Amílcar Cabral sonhara.

A Guiné pode fazer muito melhor que Angola (onde, apesar da riqueza extraída do chão, a maior parte da população continua hoje a viver em condições de vida sub-humanas). Uma foto de Luanda...

Correndo o risco de parecer um disco riscado, os políticos deverão dar um exemplo de mérito e boa governação, evitando envolver-se em intrigas de quartel, numa promiscuidade que já revelou as suas funestas consequências. Evite-se a habitual arrogância do «quero, posso e mando»...

Agora que o leite já está derramado, conforme a figura utilizada pelo Chefe de Estado Maior, tirem-se os necessários ensinamentos. Chega de derramar sangue no chão sagrado da Guiné. Ou teremos de esperar mais 7, como na canção? É preciso um «namorado» a sério para a Guiné, mas alguém que goste dela a valer! Fartos de chulos.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Angola força a mão

O «anúncio» da retirada da MISSANG para começar já na quarta, esconde mais uma tentativa de forçar a mão... Está acertada a retirada do pessoal. A retirada do material não faz parte do protocolo.

Pretende Angola provar que estava de má fé quando enviou esse material de guerra pesado para a Guiné-Bissau? Nesse caso deverá indemnizar a Guiné-Bissau pelos danos causados ao país como consequência dessa atitude arrogante... uma boa forma de acautelar esse ressarcimento, será exercer o direito de retenção de quaisquer valores angolanos em território guineense, aplicando-o de imediato, tanto ao material bélico como às instalações da MISSANG.

Seria mais proveitoso para a imagem de Angola junto dos guineenses, se fizessem uma cerimónia solene de entrega do material; se se disponibilizassem para uma cooperação assente na reciprocidade e na igualdade entre as partes, sem tiques de superioridade, intenções veladas, interesses dúbios. A figura de um novo neo-colonialismo financiado pelo capitalismo selvagem dos petro-dólares não agradou aos guineenses, que continuam à espera de um pedido de desculpas...

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Tiro no pé II

 Portugal sem representação diplomática na Guiné é uma grande confusão!

http://josepaulofafe.blogspot.pt/2012/06/guine-bissau-o-medo-de-pedir-o-agrement.html

Outro artigo do mesmo blogger, um pouco mais antigo, recuperando um slogan também já aqui usado: «Entradas de leão, saídas de sendeiro» (na altura, usámos palanca em vez de sendeiro, por nos parecer mais adequado)...

http://josepaulofafe.blogspot.pt/2012/05/entradas-de-leao-saidas-de-sendeiro.html

Dois coelhos de uma cajadada


Primeiro foi Ansumane. Depois Veríssimo. Depois Tagma, que tinha protagonizado o primeiro ritual de insubordinação na Presidência da República, onde punha e dispunha a murros na mesa; também tinha boas razões de queixa de Nino (não se faz a ninguém o que lhe este lhe mandara fazer...). Tagma foi morto por um explosivo (que segundo as investigações do inquérito seria de origem estrangeira): foi a primeira vez que um morto mandou matar um vivo? Fuzilamento. Terá Zamora sido apenas vítima do andar da carruagem ou, por outro lado, havia um maquiavélico plano para matar dois coelhos de uma cajadada?

Viva o Comando TravaMortes!

domingo, 3 de junho de 2012

Oportunidade para jornalista

Uma entrevista de fundo a Zamora seria bem pensada, para um semanário. A Guiné ainda não saiu de cartaz! Talvez, aproveitando o facto de também Carlos Gomes Junior estar em Portugal, pudessem mesmo promover uma conferência sobre o método simples de como se desembaraçar de Presidentes eleitos, para descargo de consciência do capitão Pansau Intchama, simples e confesso executor material de ordens superiores, por uma feliz coincidência, também actualmente em Portugal a finalizar um curso junto das Forças Armadas portuguesas.

Já o senhor Almirante talvez devesse completar a sua formação académica americana, por exemplo em Saint Cyr, aproveitando para se afastar um pouco de Lisboa e da situação em Bissau... Invista no seu futuro!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Angola - Plataforma do capitalismo neo-liberal viola direitos humanos

O papel emergente de Angola, palavra-chave de um puzzle mais complexo, o redesenho do mapa «neo-colonial» de África, numa nova Conferência de Berlim «informal» século e meio depois, vem colocar novos desafios, traduzindo-se decerto em ameaças fulminantes, mas também em apetitosas oportunidades para o capital internacional, já habituado a uma forte dose de volatilidade no ramo. Petróleo e as riquezas minerais são o novo chamariz: quem lhe toma o gosto...

O Presidente Amadou Touré do Mali cometeu o erro de se esquecer da companhia francesa Total, na «avaliação» das potencialidades de petróleo e gás na bacia Taoudeni (entre a Mauritânia e o Mali), recebendo 70 milhões de euros da Petro Plus Angola Limited, a fim de esta poder fazer a pesquisa, exploração, transporte e refinação de petróleo: Angola parece subvalorizar o papel dos franceses da Total, preferindo as multinacionais anglo-saxónicas (Chevron, Exxon e Mobil), mas sobretudo esquecer que ainda há «áreas» de influência tradicionais.

Quando tenta alargar a sua área de influência além fronteiras, demasiado «além», numa ambição despudorada e desmesurada, Angola está a jogar um jogo identitário perigoso... por sua iniciativa ou mesmo quando chamada, como no Sudão do Sul, esta dispersão de interesses só poderá esgotar a vitalidade e o papel verdadeiramente promissor e construtivo que Angola poderia desempenhar no continente. Lamentável caso de estudo, o desperdício de uma nação...

Enquanto isso, o campeão da democracia, José Eduardo dos Santos, distribui uns kwanzas sujos a esquadrões da morte para eliminarem a oposição mais incómoda: num veemente e sentido apelo lançado hoje por antigos militares que apenas queriam manifestar o seu desagrado com condições de vida desumanas e falta de apoio do governo angolano, numa manifestação que acabou impedida pelas autoridades; mas pior, dois dos dirigentes do movimento desapareceram. Um dos promotores do protesto, Tomás Artur Maria, dirigiu-se à imprensa assinalando os raptos, afirmando temer que os seus colegas estejam a ser torturados ou acabem por desaparecer sem rasto: "O povo já sabe que no domingo foi detido o Álvaro Kamulingue e desde então não há rasto dele. Na terça-feira, foi detido o dirigente máximo, Isaías Sebastião Kassule. Estamos à procura em toda a parte, fomos a todas as esquadras da polícia, mas os comandantes estão a negar toda a responsabilidade."

http://www.portaldeangola.com/familia-de-alves-kamulingue-continua-ser-saber-do-seu-paradeiro/

Guiné na cimeira extraordinária da SADC em Luanda

José Eduardo dos Santos, frente a vários presidentes e cabeças coroadas, começou o seu discurso de abertura da cimeira extraordinária da SADC em Luanda, hoje dia 1 de Junho, lembrando a convocação de eleições em Angola; fez o elogio da democracia, para em seguida se referir à Guiné-Bissau, para condenar o golpe de estado.

«Não pode ser tolerado o ressurgimento dos golpes de Estado em África, pois eles constituem vias ilegais para a conquista do poder político que contrariam os princípios fundamentais e valores defendidos pela União Africana. Nós juntamos a nossa voz à de todos aqueles que já condenaram os golpes de Estado ocorridos no Mali e na Guiné-Bissau».

O pequeno sinal de abertura viria a seguir «saudamos os esforços sub-regionais em curso com vista à manutenção da paz, da estabilidade e do restabelecimento da ordem constitucional.» Sauda assim SUBTILMENTE a CEDEAO (magnífica obra de retórica do seu consultor de imagem brasileiro: num contexto «sub-regional» oculta a rivalidade geográfica CEDEAO/SADC; com a verdade me enganas), que dará cobertura à retirada da MISSANG: ao sapo que acabara de engolir chama-lhe «via do diálogo paciente e inclusivo e da negociação». Esperemos que sim, de boa fé e sem retrocessos desnecessários...

http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2012/5/22/Discurso-Jose-Eduardo-dos-Santos-abertura-Cimeira-SADC-Luanda,66a91f02-a3b6-4dfd-ae45-5a7b6b9208bf.html

Compõem a SADC: África do Sul, Angola, Botswana, Congo, Lesoto, Madagáscar, Malawi, Maurícias, Moçambique, Namíbia, Seychelles, Swazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe.

Paulo Portas no Index

Ao abrigo do princípio da reciprocidade nas relações internacionais, deveria ser brevemente publicada uma lista de sanções a aplicar a personalidades portuguesas, proibidas assim de entrar na Guiné-Bissau, à cabeça das quais Paulo Portas, mas onde também constariam Cavaco Silva e António José Seguro, por desrespeito para com o actual Estado das coisas na Guiné e fomento da subversão da ordem pública em chão alheio.

P.S. Parece que só não se avança com a medida, pois seria tão ridícula como aquela tomada pela União Europeia.

António Patriota para Nobel da Paz

Brasil propõe nova Ordem Mundial

O Ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, forte da experiência pela qual passou na Guiné, apresentou uma proposta defendendo novos modelos para a gestão internacional de conflitos armados, baseados no patriotismo e no diálogo, cujo conteúdo se aplica perfeitamente à situação na Síria, tal como aliás, se teria aplicado na Líbia, evitando assim a desgraça que todos vimos, o martírio de Sirte, guerra, violência e sofrimento na sua expressão máxima (e ainda tendo como efeito o agravamento das circunstâncias políticas, tal como no Iraque, Afeganistão, etc).

As razões de António Patriota parecem legítimas e levam-nos a questionarmos: devemos assistir passivamente à imposição de uma nova Ordem Mundial baseada na agressão, no medo e num estado de guerra permanente? Não haverá uma responsabilidade ao proteger, baseada numa simples premissa: de que a cura não pode ser pior que o mal? Já São Tomás de Aquino, ao defender o direito à revolta, afirmava que uma das condições para «avançar» era a de não causar na sociedade uma perturbação maior do que aquela que se pretende remediar... Mas como aqui chegámos? Como se deu o colapso da ONU?

Com a queda do muro de Berlim gerou-se uma dinâmica de colapso sistémico do império soviético; os Estados Unidos ficavam assim vencedores da Guerra Fria, assumindo-se como única potência mundial.
Nesse mesmo ano, o Iraque invadiu o Kuwait; a comunidade internacional condenou a agressão numa atitude firme. Depois do sucesso da operação Tempestade no Deserto, quando alguns generais americanos sugeriram a destruição do exército iraquiano em retirada, o bom-senso prevaleceu na Administração Norte-Americana: as suas tropas pararam na fronteira do Iraque. O objectivo não era a mudança de regime no Iraque mas a reposição da Ordem Internacional. O entendimento era de que a derrota do ditador provocaria uma luta fratricida pelo poder, senão mesmo uma guerra civil e a fragmentação do Iraque, sendo portanto contrária à ordem mundial e à estabilidade da zona.

A partir desta atitude, revelando comedimento e equilíbrio, a tendência parece ter sido para os Estados Unidos assumirem um papel cada vez mais prepotente e arrogante. Já sem rival à altura, as suas decisões deixaram de ser negociadas, passando a ser cada vez mais impostas, recorrendo para isso ao seu poder financeiro, diplomático e militar. Esta situação criou uma animosidade e uma aversão crescentes, junto de identidades que se julgavam severamente humilhadas, como a muçulmana em particular.

A 11 de Setembro de 2001, os Estados Unidos, que nunca tinham sido atingidos no seu território, sofreram um devastador atentado terrorista conduzido por uma pequena célula, o qual superou, na escala do «orgulho» ferido americano, o de Pearl Harbor, sessenta anos antes. Este facto condicionou fortemente esta última década, com uma forte paranóia securitária a tomar conta não só dos aeroportos, mas também das relações internacionais, com a «invenção» pelos Estados Unidos de sucessivos inimigos, continuando assim a alimentar os ciclos do ódio, da vingança e do medo, sob a bandeira genérica de «Guerra ao Terror».

A hipocrisia parece ter-se tornado senhora do palco internacional. Teme-se que a Síria seja um rastilho e são desesperadamente necessárias ideias novas, novos paradigmas diplomáticos e legais que evitem o pior... Deveria ser criada uma comissão para propor António Patriota para Prémio Nobel da Paz.

Ponto da situação na Guiné-Bissau

Sua excelência o Embaixador Francisco Henriques da Silva, que representou Portugal na Guiné na guerra colonial como soldado; e depois no período da Guerra de Libertação da Junta Militar, como diplomata, deu uma conferência na Sociedade Histórica da Independência de Portugal sobre a situação no país (aproveitou para prometer para breve um livro sobre a sua experiência em Bissau nos anos 1997/99...).

Permitam-me que realce dois pontos notáveis:

«Os golpistas vão beneficiar do factor tempo e este é a melhor panaceia para todos os males e para a resolução de todos os problemas. A Nigéria e as francófilas Costa do Marfim e Senegal ganharam a partida, mas Angola estava, claramente, a jogar out of area. O golpe consolida-se com cada dia que passa. Um governo acaba de tomar posse. Os militares afirmam que vão regressar às casernas. Entramos, pois, na via da “normalização.”»

«Por muito que Cadogo, Portugal, Angola e “tutti quanti” queiram,  é virtualmente impossível que os dirigentes depostos regressem ao poder. Nem isso faria muito sentido, mesmo que fosse exequível»

Fica a curiosidade em relação ao seu novo livro, esperando que se autorize a contar os meandros das intrigas decorridas em Lisboa entre os espiões partidários de Nino Vieira e os apoiantes da Lusofonia, encabeçados pela pessoa do então bastante activo Secretário de Estado para a Cooperação... E de como se deu uma subtil, mas firme e sustentada, alteração do sentido da opinião pública portuguesa, inicialmente a favor da «legitimidade democrática».

P.S. Caro Senhor Embaixador, uma vez que referiu a actual «blogosfera», mosca tsé-tsé residente dispõe de um arquivo digital da guerra «virtual» travada na Internet (no período em causa 1998/99), sobretudo através de Fóruns de Discussão, que coloca desde já à disposição de Vossa Excelência.