segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Mosca 7ze sofre um atentado na Guiné-Bissau


Exactamente! Ao contrário de outras histórias inventadas (ou, no mínimo, mal contadas) é a pura verdade e há registo vídeo! No acto da inauguração (sim, tive a honra de estrear o notável equipamento!) da piscina do complexo turístico de Jemberém (lembrem bem), sofri um miserável atentado à vida da minha pessoa. Pois imaginem que, estando eu em plena banhoca, a olhar para os macacos que passavam por cima (não estou a inventar), senti um pequeno movimento no braço direito (felizmente sou peludo, pois os pelos, neste caso, funcionaram como sensores). Quando fui a ver, uma mosca gigante (aqui há borboletas do tamanho de pássaros!) e feiosa, com uns olhos enormes que mais pareciam uns óculos escuros dos chineses, estava-se a preparar para tentar cravar-me o precioso líquido que flui nas minhas veias! Indecente! Dei-lhe um piparote, sem me preocupar muito com o facto; a gaja, mal agradecida, dá uma volta ao redondel e regressa, só que, desta vez, advertido, acerto-lhe com o piparote antes de ter oportunidade de cheirar sequer o meu braço esquerdo (eu sou muito respeitador da vida, mesmo de insectos); seguidamente, tem a má sorte de pousar no antebraço do meu motorista, que também estava em pleno relax (bem merecido, aliás, pois fizéramos 250 Km por picadas que pareciam carreiros, a romper mato cerrado); estando de costas, eu avisei-o e ele, com um reflexo fulminante, reduziu a uma massa informe o lamentável insecto voador. Eu, curioso, claro, mas também por interesse biológico, inquiri do respectivo nome: uma mosca tsé-tsé! Aí, fiquei cheio de pena do bichinho, recolhi cuidadosamente os seus restos mortais, e depositei-os com todo o cuidado à beira da piscina, perante o espanto (senão consternação) dos outros dois banhistas, que se esforçavam por me explicar que aquele bicho era coisa feia que provocava uma doença fatal. Claro que desconheciam a razão da minha atitude: a alcunha que uso há mais de dez anos na internet, sob várias formas… por exemplo, para jogar xadrez no Yahoo, é «mosca_zeze». Escolhi-o porque a minha irmã, uma vez que deveria estar a ser particularmente chato, me chamou isso (e eu, claro, gostei). Eu naquele lamento todo, e, nem de propósito, aparece uma segunda mosca (seria um casal?)… fui a correr para o bungalow buscar a máquina fotográfica e pedi para ma «atordoarem», sem a desfazer, o que foi diligentemente cumprido com um piparote, atirando-a para a água. Decerto conhecem o fenómeno de «morte súbita», que se produz debaixo de choque com alguns insectos: têm uma síncope que lhes permite simular a morte, desinteressando assim o predador; pois foi isso que se passou, com a mosca «morta» a boiar na água e eu todo contente com a «integridade» do troféu, recolhi-o e depositei-o à beira da piscina, para começar a recolha de fotos «estáticas»… já tinha a «macro» da máquina fotográfica ligada quando ela recupera e tem um primeiro «espasmo»; imediatamente flipo para vídeo e começo a filmar… tem pouca qualidade, mas cá vai o «ressuscitar» da mosca! Imperdível é o levantar voo em condições improváveis (de costas e de asas coladas à água) seguida da minha exclamação final «Ah já devíamos ter morto»!









P.S. Revelação: há uma pequena fantasia romanesca nesta história; de facto, e embora na Guiné haja moscas tsé-tsé, a famosa mosca do sono, mais para os lados do Gabú, esta era uma «mosca bravo» (lembro que o crioulo não tem feminino); tudo o resto é pura verdade; e, já agora, hipótese da origem deste último nome? O primeiro tuga, quando ali chegou e foi dela mordido, deve ter exclamado «Moscardo»; _ah, «mosca bravo» - deve ter percebido o interlocutor…

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Al-Kasaba: a última cidadela


Chamaram-lhe Real e Insigne Colegiada de Santa Maria da Alcáçova de Santarém, e desde Afonso Henriques que é considerada o último reduto da nacionalidade. À Sua protecção se acolheu Afonso Henriques, em 1184, contra um milhão de inimigos. Que segredos continua a ocultar esta misteriosa instituição herdeira dos Templários?


Quando a realidade ultrapassa a ficção…





Ante-Estreia dia 14 de Novembro no Teatro Sá da Bandeira, pelas 21h30. Só com bilhetes VIP.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Don't U want me?


Baby? You know I don't believe when U say...
Um dia antes, Conversas sobre Património, nas Portas do Sol: não se deixem desmoralizar pelas obras! Revelações importantes! A não perder, tal como aquela que vai ser a maior festa jamais vista do Xantarim!
Zee U

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Konvite

Não, não te quero cá! Vai pó K... Não, não insistas! Se queres saber, tou-me a K... para se vens, no Domingo dia 6 de Julho, às Portas do Sol…

A partir das 20h30!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Manifesto Anti-Niza


Este blog foi feito (para além de outros objectivos menos confessáveis) para publicar um ataque a este lúgubre e repugnante personagem; esse ataque já deveria ter ocorrido há mais de um mês, mas circunstâncias várias foram fazendo com que fosse sendo adiado. Mas porquê esta fúria? Comecemos pelo princípio: sendo personagem que nunca me foi especialmente simpático, foi com desagrado que reparei que era a estrela das comemorações do 25 de Abril promovidas pela Câmara Municipal de Santarém (aliás, vim a saber depois, em clara «concorrência» e desafio relativamente às promovidas pela Comissão das Comemorações Populares); deveria ter desconfiado logo que vi o cartaz e folheto da «Oferta Cultural» do mês! Estava em curso uma cabala, uma tentativa de falsificação da história, um acto mesquinho para desacreditar Fernando José Salgueiro Maia, com a cobertura de um Município (o meu, infelizmente), de um importante grupo de comunicação nacional (Balsemão) e de um pasquim local. Movidos pelo despeito e pela sua mediocridade, ousaram atacar um morto, o herói que invejam e que o povo e a história reconhece, numa tentativa mal engendrada de ofender a sua memória com falsos testemunhos. Mas voltando aos factos: fiquei espantadíssimo com a chamada da capa do Mirante dessa semana e precipito-me para descobrir uma página inteira dedicada à tenebrosa mistificação. Passo o fim-de-semana irritadíssimo, e logo na Segunda-Feira dirijo-me à sede do Mirante, onde descubro que a peça fora «fabricada» ao mais alto nível (na «boa fé» jornalística, claro, de quem procura cachas e notícias bombásticas); exponho a minha indignação ao próprio e tento obter um desmentido qualquer, nem que discreto; mas qual quê, ficaram ofendidíssimos, por pouco ia sendo empurrado pelas escadas abaixo, susceptibilidade denunciando o estilo «jornalístico» e a linha «editorial». Refira-se que essa edição do Mirante saiu com o Expresso no Distrito, acompanhado pelo Livro de «Poesia»… pago pelo «artista» ou pela Câmara? Bom, mas veja-se aqui a «peça»: http://semanal.omirante.pt/index.asp?idEdicao=336&id=43100&idSeccao=4896&Action=noticia Repare-se, muito sucintamente, logo na forma de se dirigir ao Capitão de Abril: «Ele quis-me despejar, lá na sede do PS, 150 G3 e eu não quis. Disse-lhe: Ó Salgueiro Maia, desculpe lá. O único tipo que sabe mexer nas G3 sou eu que estive em Angola. E não vejo aqui nenhum inimigo à vista. Portanto não me ponha cá essa coisa.» Denuncia-se depressa! Com que então agora o herói é ele, o verdadeiro já quase esqueceu! Com que legitimidade trata assim um herói, tu cá tu lá, se é o próprio a dizer que só conheceu Salgueiro Maia depois do 25 de Abril? Muito texto a querer parecer elogioso, só para concluir: «Era muito determinado MAS demasiado radical». Mesmo que, por absurdo, fosse verdade, era claramente pouco elegante vir revelá-lo a esta distância e sem que o próprio se pudesse defender. Ora o ofendido sempre defendeu que era uma grande irresponsabilidade a entrega de armas aos civis, e não se está a ver o Fernando José com duas caras. Outra razão é simplesmente que, se fosse realmente ele a tratar disso (não estou a dizer que não era menino para essas coisas) as coisas teriam decerto acontecido! É conhecida a fúria organizativa do Fernando, que chegava a ser exasperante: ele, pura e simplesmente, não teria falhado! Logo na segunda-feira seguinte, que por acaso era dia de Assembleia Municipal, bati a cidade alvoroçado com esta fúria… se tivesse encontrado o gajo havia de ter sido o bonito: no mínimo insultado havia de ser! Tenho o direito à indignação, já que não vejo outras formas de «participação»! A liberdade de expressão tem limites! Nesse mesmo dia interpelei a Comissão das Comemorações Populares do 25 de Abril, que me garantiu não ter nada a ver com toda a cena. Com o jornal debaixo do braço, fui à sede do PS, que, por acaso, estava aberta, perguntar se já estavam esgotadas (quando perguntaram o quê? mostrei a capa)… estava um pequeno magote à entrada, que, para partidários, se mostraram pouco consistentes ao revelarem a sua total ignorância dos títulos da imprensa local referentes ao seu partido: terão confundido a sede «política» com uma agência do IEFP? Passados uns dias, executei uma expedição punitiva pela net, pesquisando todas as notícias relacionadas e colocando comentários provocadores em todas as que o permitiam, como por exemplo no site da Visão (sim, que também saiu um «artigo»: Sete Vidas, na edição de 24 Abril), no Batalhão do gajo na guerra colonial, em sites de Santarém, de poesia, etc, enfim, tudo o que apanhei... Chamei-lhe todos os nomes, do qual o mais simpático foi senil! Fiz queixa à Associação 25 Abril, em cujo blog vi um comentário meu mais agressivo ser censurado. Mas aqui deixo uma citação de um «ancião» respeitável nestas andanças da verdadeira política, Jerónimo Sardinha, homem sério e íntegro, frequentador da A25A: «Vamos ao que considero mais grave. A poucos dias do 25 de Abril, numa cerimónia pública, um personagem (José Niza. Outra vez PS), que respeito e por quem tinha alguma consideração, deixou “cair”, na sua intervenção, que Salgueiro Maia, em Novembro de 1975 quis entregar 150 G3 ao PS de Santarém e terá sido ele a recusá-las. Assim temos que: - primeiro, Maia já não está entre nós para confirmar, negar ou esclarecer. In Memorian, devia ter ficado calado; - segundo, desempenhou altos cargos de estado, políticos e partidários. O silêncio era o mais recomendado. Até porque nesta altura não só não esclarece, como pode acirrar ânimos; - terceiro, o famoso problema das armas em 1975 e não exactamente estas, não está nem de perto nem longe esclarecido.» extraído de www.avenidadaliberdade.org Quanto às armas, se os meninos do PS não mandam calar aqueles que, sem autorização ou mandato, dizem barbaridades em nome do partido ou acerca do partido (não vi nenhum desmentido ou a mínima nota de desagrado emanada do PS local, conforme tive ocasião de solicitar a vários dirigentes, inclusive publicamente, por ocasião do lançamento do livro de Mário Silvestre no Fórum Actor Mário Viegas), ter-se-á de explicar, para esclarecer as crianças mais novas, que o 25 de Novembro não foi o que o Sr. Mário Soares pintou… Armado aos pássaros, sonhando com o brumoso golpe do Napoleão, queria passar por herói da «resistência anti-comunista», tentou encenar uma deslocação da Assembleia para o Porto, mas correu-lhe mal, e ainda hoje andam a tentar mistificar as pessoas com o tema… Vão bugiar! E o melhor é o Manuel Alegre cortar ligações com este anormal, se não quiser arriscar a cair também no saco da merda!


Se alguém se sentir ofendido que pague as custas, que eu preparo melhor o dossier!


25 de Abril Sempre!

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Festa do Xantarim no ParaClube


Závado, binde às Kaneiraz, mulherez'em pâniko, zeredezez electrizadas!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Educação na Guiné-Bissau



Ontem fui até ao Teatro Sá da Bandeira dar uma conferência! Não quis deixar de a colocar aqui. Correu muito bem. Para além deste texto que levei e li de forma um pouco informal, acabei por me esticar com uma série de pequenas histórias que me iam ocorrendo, até porque foi bastante interactivo: falou-se dos problemas que afectam negativamente a psicologia africana, mas também de coisas boas e de questões identitárias.
**************** Fui convidado, julgo que a título de ex-consul honorário em Portugal da extinta Junta Militar, para vir hoje aqui falar sobre a Educação na Guiné-Bissau, sem outra habilitação especial neste campo para além da de ter feito a segunda classe em Bissau no ano lectivo de 1974/75. Visitei Bissau pela última vez, em 2001, se não me engano. Permitam-me que esclareça desde já que o processo político subsequente conduziu ao meu afastamento da actualidade guineense, que acompanhara intensamente desde 7 de Junho de 1998, como, aliás, a esmagadora maioria da opinião pública portuguesa.
Por isso, quanto a números e estatísticas, vou utilizar apenas os do analfabetismo, que me forneceu o meu amigo Geraldo Martins, Secretário de Estado da Educação por essa altura: um quarto de século após a independência, o analfabetismo continuava em níveis aterradores: 85% para as mulheres e 53% para os homens. Que posso eu partilhar convosco? Que comecei a perceber as razões pelas quais Fernando Pessoa afirmava que «todas as revoluções são tendencialmente inúteis»? Ainda me lembro das palavras que pronunciou, em tom profético, a «primeira-dama» guineense ao embarcar no avião para o exílio: «Volta di mundu i rabu di pumba». Ou seja: o mundo dá voltas e voltas e é como uma pomba a bicar o rabo, volta ao mesmo sítio. Devemos por isso desistir?
Permitam-me que vos conte a história do falhanço de um ideal. Este livro, que tenho na mão, foi primeiro publicado no Brasil em 1970, e, dois anos depois, em Portugal: «Pedagogia do oprimido», de Paulo Freire, numa edição Afrontamento, vindo depois a ser proíbido pela censura numa edição Dinalivro. Paulo Freire é reconhecido no Brasil como um grande pedagogo. Mas que tem isto a ver com a Guiné? Logo a seguir à independência, Paulo Freire foi convidado pelo Secretário de Estado da Educação de então, Mário Cabral, para fazer um plano de alfabetização, aplicando as suas ideias revolucionárias. Paulo Freire publicou em 1977, no Brasil, um livro sobre essa experiência, e Mário Cabral a sua correspondência no âmbito deste projecto. Afirmava Freire que a alfabetização não devia «esclerosar-se na frieza sem alma de escolas burocratizadas em que cartilhas elaboradas por intelectuais distantes do povo – em que pese às vezes sua boa intenção – enfatizam a memorização mecânica» (FREIRE, 1977, p. 91). Na boa tradição pedagógica de Abelardo, que há cerca de 8 séculos fundara a Universidade moderna, ao ter a ousadia, para além de envergonhar os mestres com a sua Dialéctica, admitir a dúvida como processo de conhecimento; e de Comenius, que há 4 séculos, continuou nessa senda, com o lema: "Ensinar tudo a todos" para possibilitar ao homem realizar-se no mundo como verdadeiro actor e artífice da sua existência.
Mas voltemos à Pedagogia do Oprimido e permitam-me que cite: «A narração, de que o educador é o sujeito, conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração transforma-os em “vasilhas”, em recipientes a serem “enchidos” pelo educador. Quanto mais vá “enchendo” os recipientes com seus “depósitos”, tanto melhor educador será. Quanto mais se deixem docilmente “encher”, tanto melhores educandos serão. Desta maneira, torna-se a educação um acto de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante. Em vez de comunicar, o educador faz comunicados que os educandos recebem pacientemente, memorizam e repetem. (…) Fora da busca, fora da praxis, os homens não podem ser. Nesta visão distorcida da educação, não há criatividade, não há transformação, não há saber. Só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca inquieta, impaciente, permanente, que os homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros. Busca esperançosa também.»
O alfabetizando era desafiado a reflectir sobre seu papel na sociedade enquanto aprendia a escrever, a repensar a sua história. O professor é mais um coordenador do debate, quase um animador. Para Freire a educação deve primar por ampliar a visão de mundo dos educandos e isso deve partir do diálogo. Para ele, a capacidade de diálogo «é, antes de tudo, uma atitude de amor, humildade e fé nos homens, no seu poder fazer e refazer, de criar e recriar.» Por isso Paulo Freire propunha uma alfabetização na língua materna, ou na língua mais próxima à materna, neste caso, a adopção do crioulo, mas o PAIGC, malgrado as intenções de Cabral consignadas na Plataforma do Partido desde 1963, acabou por decidir pelo português, argumentando que a adopção do crioulo isolaria a Guiné do resto do mundo. O projecto de alfabetização redundou num falhanço e foi cancelado anos depois. Freire diria no seu livro: “Não é por acaso que os colonizadores falam da superioridade e riqueza da sua língua a que contrapõem a pobreza e a inferioridade do dialecto dos colonizados”.
Um pouco desiludido, Freire comentaria, anos mais tarde, num livro em co-autoria com outro grande pedagogo, Sérgio Guimarães, A África ensinando a gente: «Quão difícil é realmente reconstruir uma sociedade! Criar uma sociedade nova, que vai gerar um homem novo e uma mulher nova! E aí a gente percebe, na verdade, como isso não tem nada que ver com os mecanicismos, que não tem nada que ver com espontaneímos, nem tampouco com voluntarismo. Mas, pelo contrário, isso demanda uma consciência política clara, que se vai clarificando mais na praxis política, fora da qual não há caminho, eu creio, não há solução. (...) Mas exactamente porque isso não é mecânico, mas sim dialéctico, em certos casos a educação anuncia o mundo a transformar-se, mas é preciso que esse mundo se transforme realmente para que o anúncio que a educação faz não caia no vazio. Isso tudo exige rigor de estudo, capacitação de quadros, o desenvolvimento económico e social do país, tudo a um só tempo! Não é fácil.» Acrescente-se que a eliminação física dos quadros coloniais e todos os «assimilados» mentais do colonialismo também não terão ajudado ao processo.
Dando um salto de 30 anos até 2008, decorreu em Fevereiro um Congresso de Educação que evidenciou uma enorme apetência dos professores, tendo contado com mais de 120 participantes. Segundo as conclusões, publicadas no site Ecclesia, «Uma das enormes falhas verificadas é a grande dificuldade dos professores utilizarem materiais didáctico-pedagógicos nas salas de aulas, tentou-se que a formação ministrada fosse de cariz essencialmente prático, abordando os conteúdos e explorando materiais para os trabalhar, em simultâneo. Pretende-se desta forma que os professores introduzam nas suas salas novas metodologias que ultrapassem o recorrente método expositivo e o apelo à memorização e mecanização dos conteúdos sem a sua real aprendizagem. Parte de formação consistiu ainda na construção de materiais didácticos com recurso exclusivo a materiais locais e a sua exploração adequada tendo em conta os vários conteúdos abordados». Volto a dizer: «Volta di mundu i rabu di pumba». Tantos anos e voltámos ao mesmo, estamos para aqui a dar razão ao Paulo Freire! Ensinar / aprender não é macaquear o conhecimento!
O panorama dos últimos anos não é animador: segundo as Nações Unidas, a Guiné-Bissau dispõe de um dos piores sistemas escolares do Mundo. Os professores passam meses sem receber os seus salários e recorrem frequentemente à greve. Uma repórter, Phuong Tran, deslocou-se à localidade de Canchungo, ao Liceu Ho Chi Minh, que se situa a cerca de 70 Km de Bissau. Recolheu, entre outros testemunhos igualmente gritantes, o de Norberto Mendes: ”O meu pai e a minha mãe são muito pobres, portanto não tenho dinheiro para pagar a escola. Tenho que encontrar empregos para conseguir pagá-la. Estou muito cansado.” A maior parte dos professores optam pelo ensino privado (palavra pomposa que esconde a triste realidade de as comunidades terem de alimentar os seus professores sem salário…). Chegou-se ao ponto, há uns anos, de o ministro da Educação ter anulado o ano escolar porque os professores só tinham dado um décimo das aulas. Tudo isto terá levado Dulce Borges a interrogar Didinho (Fernando Casimiro), no seu site sobre o sistema de educação: «Mas haverá um sistema de educação?»
Se sentiram este meu discurso como derrotista, não era essa a minha intenção. Continuo a pensar que a Guiné-Bissau, com toda a sua diversidade étnica e riqueza humana concentrada num espaço geográfico tão exíguo, tem condições para liderar um «Despertar do Continente». Paulo Freire, admirador de Amílcar Cabral, queria fazer da Guiné um balão de ensaio para uma grande revolução. Uma nota de esperança, dedicada aos jovens estudantes guineenses: reinventem-se! Escrevam crioulo e enriqueçam-no! Permitam-me que, para acabar, exalte as vantagens do crioulo face ao português, graças a uma pequena história pessoal: viajaram comigo para Bissau uns holandeses; todos nós, portugueses, sabemos que estas etnias bárbaras são pouco dadas a afinarem a sua língua à nossa pronúncia, nunca conseguindo livrar-se do sotaque por mais dezenas de anos que passem no nosso país; pois pasme-se, os rapazes, ao fim de 15 dias já falavam o crioulo sem qualquer sotaque!

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Imperdível


Os Stones no Xantarim é já amanhã!

terça-feira, 20 de maio de 2008

Vergonha Mundial


Hoje, 20 de Maio, é a data prevista para o início do julgamento do ex-diplomata iraquiano Tarek Aziz. O processo é uma barbárie pois o velho senhor, para além de estar doente e paralisado de uma perna, é um velho aristocrata, incansável fumador de charuto, e um grande estadista, velha raposa que apertou a mão a todos os grandes deste mundo (incluindo a do seu chefe religioso, o Papa João Paulo II); é no mínimo pouco elegante que poucos ou nenhuns se levantem hoje para o defender.

A acusação, é uma farsa: não encontraram nada melhor para acusar o senhor que o fuzilamento de quatro dezenas de comerciantes, por açambarcamento de géneros, durante a guerra Irão-Iraque dos anos 80! Independentemente de Sua Excelência garantir que tomou conhecimento do caso pela comunicação social, vamos admitir, reduzindo ao absurdo esta tese, que tinha realmente dado essa ordem pessoalmente e por sua iniciativa, sem se escudar em quaisquer instruções ou orientações políticas superiores…

Num contexto de ruptura alimentar, certos comerciantes retêm a mercadoria em armazém para poderem lucrar com a escassez e a fome; o prejuízo é óbvio para toda a gente; a tentação para proceder dessa forma é grande, pelo que seria possível ter uma situação paradoxal de armazéns abastecidos e fome nas ruas; qualquer político responsável e consistente, tendo em conta a intensidade dos estímulos, teria de tomar uma decisão forte, para evitar à sociedade males maiores; o exemplo certo no momento certo.

As forças ocupantes não têm qualquer legitimidade política (para além da militar, que concede o frágil estatuto de «vencedores»), para avançar com este processo: não conhecem o conceito de «razão de estado»?. Criminosos são os decisores americanos (com a conivência de uma Europa amorfa), no seu gabinete com ar condicionado, quererem impor aos iraquianos o seu império e a sua ordem, com a desordem que se constata, o rol de misérias e de desgraças… Espero que Sua Excelência consiga manter a dignidade que se impõe… os mártires cristãos vão torcer por si!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

No princípio...

Bom, é só um blog!

Já fui frequentador assíduo de fóruns de discussão, há mais de uma década, mas cansei-me. Ultimamente, tenho frequentado uma série de blogs; aliás, este blog deve-se sobretudo ao incentivo de uma amiga, Liliana Lourenço, a melhor ilustradora desta esfera (e de outras).

O que mais me custa é a responsabilidade: uma vez tive uma crónica no semanário O Ribatejo, no ano de 1998, se não me engano, e bem me lembro da nóïa que era todas as semanas para alimentar a coisa. Portanto, blog meu: o mais provável é não ter paciência e morreres à míngua!

Verbalizar. Exorcisar. Partilhar emoções. Deixar um registo. A ver se me lembro de ir consignando o mais importante...